sexta-feira, dezembro 30, 2005

III Prêmio Balípodo – Os Melhores de 2005

Festa de gala da CBF ou da Fifa? Anúncio da Bola de Ouro da France Football? Milton Neves entregando a Bola de Prata do Brasileirão? Lançamento do gibi do Ronaldinho Gaúcho? Nada disso! Nenhum evento de fim de ano era tão aguardado quanto o anúncio do Prêmio Balípodo – Os Melhores do Ano. Por isso ele só é anunciado no último dia útil do ano. Porque, convenhamos, esses outros premiozinhos são preliminares, jogos de aspirantes, em comparação com a partida principal.

Como já ocorreu em 2004, algumas categorias foram criadas, outras foram eliminadas e houve as que mudaram de nome. O critério de escolha continua sendo arbitrário (se o STJD pode, o Balípodo também se dá o direito, hehe).

EQUIPES
Prêmio “Samoa Americana” de pior time do ano

Operário-RO, último colocado da Segunda Divisão Rondoniense com oito derrotas em oito jogos, quatro gols prós e 67 gols contra (média de 8,4 gols sofridos por partida). Na campanha, derrotas como 1 x 17 para Ulbra e 0 x 12 contra Jaruense.

Prêmio “Estudiantes” de time pequeno que não amarela
Paulista (campeão da Copa do Brasil em cima do Fluminense), Ipatinga (campeão mineiro diante do Cruzeiro) e Rocha (campeão do Torneo Apertura uruguaio)

Prêmio “São Caetano” de time pequeno que amarela
Volta Redonda, tomando a virada contra o Fluminense no Estadual do Rio, e Náutico (que não é propriamente pequeno, mas é menor que o Grêmio), que, jogando em casa com um pênalti a favor e quatro jogadores a mais, conseguiu perder do Tricolor gaúcho

Prêmio “Bragantino” de ascensão, apogeu e queda mais rápida
Everton, que provocou uma briga entre a Uefa e a federação inglesa para poder participar da Liga dos Campeões, mas perdeu do Villarreal na fase preliminar, foi “rebaixado” para a Copa da Uefa e acabou desclassificado de todas as competições continentais após tomar de 5 x 1 do Dinamo de Bucareste

Prêmio “Atlético-MG” de time grande que amarela
Cruzeiro, após perder o título estadual no Mineirão para o Ipatinga, sua própria filial

Prêmio “Internazionale” de decepção da temporada
Internazionale

Prêmio “Real Madrid” de esquadrão “imbatível”
Manchester United, que conseguiu ficar em último em um grupo com Villarreal, Benfica e Lille na Liga dos Campeões (o prêmio normalmente iria ao Real Madrid, mas os merengues já ganharam muitos prêmios esse ano)

Prêmio “Fluminense/Grêmio” de grande rebaixado
Atlético-MG, Bahia e Vitória

Prêmio “Rivaldo” de “Eu fiz tudo certinho, porque ninguém se lembra?”
Goiás, terceiro colocado no Brasileirão (melhor campanha da história do clube) e que ninguém deu muita bola o ano inteiro

Prêmio “Kofi Annan” de representante do mundo
Valon Behrami. Nascido na Sérvia, se mudou ainda criança para a Suíça. Mas a família era do Kosovo e ele pensou em defender a Albânia. Acabou como uma das revelações da seleção suíça que conseguiu uma vaga na Copa de 2006

Prêmio “Juventus” de ganhar dos grandes e perder dos pequenos
Brasil, que ganhou de Alemanha e Argentina, mas não passou por México e Japão na Copa das Confederações

Prêmio “Flamengo” de centenário mais festivo
Boca Juniors, que comemorou seu 100º aniversário perdendo do Vélez Sársfield

Prêmio “Boca Juniors” de time de chegada
Fluminense, que caiu diante do Paulista na Copa do Brasil e deixou o Palmeiras recuperar uma diferença de 10 pontos em cinco rodadas na disputa da última vaga brasileira na Libertadores

Prêmio “Atlético-PR” de saber segurar o placar
Milan, ao fazer 3 x 0 no Liverpool

Prêmio “tesourinha da Turma da Mônica” de “eu tenho, você não tem”
São Paulo, exibindo a Libertadores e o Mundial para corintianos e palmeirenses

Prêmio “Dunga” de volta por cima
Grêmio, que, com quatro jogadores a menos e um pênalti contra, conseguiu vencer o Náutico por 1 x 0 no jogo decisivo da Série B

Prêmio “Nilton Santos” de defesa ajudando o ataque
São Paulo, que teve como artilheiro do ano o goleiro Rogério Ceni e contou com um gol de Mineiro para ganhar o Mundial

Prêmio “Portuguesa” de cavalo paraguaio
Botafogo, líder do Campeonato Brasileiro até metade do primeiro turno

Prêmio “Rider” de “Dê Férias para Seus Pés”
Tuna Luso, que foi desclassificado na fase preliminar do Campeonato Paraense de 2005 (disputada em 2004) e ficou inativo o ano inteiro. Até voltar em dezembro para a fase preliminar do Parazão 2006. E já está de férias de novo

PERSONALIDADES
Prêmio “Zagallo” de “vocês vão ter de me engolir”

Rogério Ceni, certamente um dos maiores jogadores da história do São Paulo

Prêmio “Mr. Magoo” de dirigente que vê tudo o que ocorre em seu clube
Marcelo Teixeira insistindo em Nelsinho Baptista para 2006 (até que o técnico se demitiu)

Prêmio “Maradona” de “mano de Diós”
Pelé, que botou a Holanda no mesmo grupo da Argentina na Copa

Prêmio “Roberto Justus” de “você está demitido”
Cuca, que passou pelo Flamengo, teve uma oportunidade no Coritiba e encerrou o ano slavando o São Caetano do rebaixamento (e foi demitido mesmo assim)

Prêmio “Oséas” de jogar contra o próprio patrimônio
Betão e Gustavo Nery, fazendo gols contra em partidas decisivas do Corinthians no Brasileirão

Prêmio “Mustafá Contursi” de decisão gerencial mais inteligente
Marcelo Teixeira, demitindo Gallo com o Santos na disputa do título para colocar Nelsinho Baptista contra o desejo de todo o elenco

Prêmio “José Mourinho” de modéstia
Vanderlei “se eu tivesse ficado o Real Madrid era campeão” Luxemburgo

Prêmio “Casal das Casas Bahia” de casal mais chato
Ronaldo & Daniella Cicarelli

Prêmio “Roman Abramovich” de “eu não sei o que fazer com tanto dinheiro”
Florentino Pérez, que pagou cerca de € 40 milhões ao Sevilla para levar Sérgio Ramos e Júlio Baptista

Prêmio “Simeone” de jogador mais pentelho
Arano, o jogador que ficou pentelhando o Grafite durante o jogo São Paulo x Quilmes na Libertadores

Prêmio “Zeca Pagodinho” de malandragem
Diretores da Uefa, fazendo uma gambiarra para colocar o Liverpool na Liga dos Campeões mesmo terminando em quinto lugar no Campeonato Inglês

Prêmio “Oliverrá” de brasileiro que explode no exterior
Luís Fabiano, mostrando toda a arte de fazer gols no Porto e no Sevilla

Prêmio “Dario Hubner” de revelação tardia
Luca Toni, que, aos 28 anos, despontou como um dos principais centroavantes da Itália

Prêmio “Váldson” de excelência no exercício de funções defensivas
Adriano e André Luiz, zagueiros do Atlético-MG no início do Brasileirão

Prêmio “eu sei o que você fez no verão passado”
Torcedores da Juventus hostilizando os do Liverpool nas quartas-de-final da Liga dos Campeões

Prêmio “STJD” de estragar um Brasileirão
Márcio Rezende de Freitas

Prêmio “Márcio Rezende” de acerto em decisões arbitrais
Toshimitsu Yoshida, árbitro japonês que deu tiro livre indireto por invasão de área na cobrança de um pênalti no Uzbequistão x Barein nas Eliminatórias da Copa

Prêmio “Guy Roux/Alex Ferguson” de técnico que se eterniza no clube
Daniel Passarella no Corinthians

Prêmio “Bob Woodward” de boa atuação da imprensa
Todos jornalistas que juraram de pés juntos que Vágner Love iria ao Corinthians

Prêmio “Vicente Matheus” de frase certa na hora certa
“Sim”, de Daniela Cicarelli ao padre que celebrou seu casamento com Ronaldo no castelo de Chantilly, na França

Prêmio “Júnior” de arrependido mais rápido
Émerson Leão, que jurou que tinha dívida de gratidão com um amigo japonês, foi ao Vissel Kobe e voltou sem vencer nenhuma partida. Enquanto isso, seu substituto, Paulo Autuori, ganhou a Libertadores e o Mundial.

Prêmio “Bebeto” de terminar sua trajetória no auge
Fernando Redondo, que, aos 36 anos, está há um ano em Madri esperando propostas

Prêmio “Leila Ackmin/Robério de Ogum” de futurologia
Tite, que afirmou que o Atlético-MG disputaria uma vaga na Libertadores, e Roberto Carlos, que previu que o Real Madrid seria o maior time do mundo depois da chegada de Luxemburgo

Prêmio “Zico” de pênalti perdido em hora inoportuna
Wome, chutando para fora um penal nos descontos de Camarões 1 x 1 Egito nas Eliminatórias da Copa. O gol classificaria os camaroneses para o Mundial

Prêmio “Vito Corleone” de métodos esportivos para dialogar
Torcedores do Chelsea, que ameaçaram de morte o árbitro sueco Anders Frisk após a derrota dos blues para o Barcelona nas oitavas-de-final da Liga dos Campeões

Prêmio “Sérgio Manoel” de “o que diabos viram em mim?”
Peter Crouch, que não cabeceia apesar de seu 1,98 m de altura, não fez gol em mais de 1440 minutos e, ainda assim, é titular do atual campeão europeu

Prêmio “Edmundo” de trancado no exterior
Vágner Love, que não conseguiu se desvencilhar do contrato com o CSKA Moscou

Prêmio “Viola” de ida à Europa mais bem-sucedida
Vanderlei Luxemburgo, por motivos óbvios

Prêmio “Joselito” de ausência de noção
O sujeito da Conmebol que marcou o jogo de volta das quartas-de-final e o de ida das semifinais da Libertadores durante a disputa da Copa das Confederações

Prêmio “Marcelinho Carioca” de bom ambiente no elenco
Tévez e Marquinhos trocando afagos no treino do Corinthians

Prêmio “Gamarra” de jogo limpo
Boca Juniors, que cumprimentou o Chivas Guadalajara dentro do maior espírito esportivo após a eliminação nas quartas-de-final da Libertadores, Coritiba, que manteve o vestiário da Arena da Baixada em perfeito estado após perder a final do Campeonato Paranaense, e Turquia, reconhecendo a legitimidade da classificação suíça na repescagem das Eliminatórias européias

ACONTECIMENTOS
Prêmio “Argentina 6 x 0 Peru” de placar mais honesto

Roma 0 x 0 Lazio, returno do Campeonato Italiano. O empate salvaria as duas equipes do rebaixamento. O jogo foi modorrento e, pela primeira vez em anos, o dérbi romano não teve nenhum tipo de confusão

Prêmio “CBF/Clube dos 13” de regulamento mais inteligente
Federação Alagoana, que realizou o segundo turno do estadual durante a disputa da Série B e, por isso, deixou o CRB de fora dessa parte do campeonato. Como o CRB não ganhou o primeiro turno, saiu da disputa do título na metade do torneio

Prêmio “Redenção” de novela mais longa
Robinho e sua ida ao Real Madrid

Prêmio “Luis Zveiter” de decisão judicial mais inteligente
Luis Zveiter, anunciando a anulação de 11 jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho autoritariamente, em uma “coletiva” montada improvisadamente no hall de seu prédio, em uma manhã de um domingo que tinha rodada do Brasileirão

Prêmio “Brasil 1 x 2 Uruguai” de “o que diabo aconteceu?”
Milan 3 x 3 Liverpool, na final da Liga dos Campeões. Os italianos venciam por 3 x 0 e sofreram três gols em seis minutos

Prêmio “Portugal 0 x 1 Grécia” de papelão em casa
Vasco 0 x 3 Baraúnas na Copa do Brasil

Prêmio “Coritiba x Bangu/Atlético-PR x São Caetano” de final inusitada
Volta Redonda x Americano na Taça Guanabara

Prêmio “Trinidad e Tobago x Barein” de “eu não acredito que daí vai sair um time para a Copa”
Trinidad e Tobago x Barein

Prêmio “Juca Kfouri” de “Pontos corridos são emocionantes”
Campeonato Escocês, com o Celtic tomando uma virada do Motherwell nos últimos dois minutos da última rodada e dando o título ao Rangers

Prêmio “Galvão Bueno” de “Se pontos corridos fossem bons, Copa do Mundo não seria em mata-mata”
Liverpool x Milan, na Liga dos Campeões

FELIZ 2006 PARA TODOS, LEITORES E PREMIADOS!!!

Ubiratan Leal

Textos relacionados
Prêmio Balípodo - Melhores de 2004
Prêmio Balípodo - Melhores de 2003

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Chutômetro nº 19

1) Que confronto se repetiu em todas as Copas entre 1974 e 1990?

Itália x Argentina.

2) Quantos clubes de outro estado já disputaram o Campeonato Carioca?

3: Rio Cricket, Canto do Rio/ADN e Petropolitano, todos do Rio de Janeiro na época da separação com a Guanabara.

3) Que jogador brasileiro estava em campo na final da Recopa de 1995, aquela em que o Nayim (Zaragoza) fez um gol sem querer do meio de campo no Seaman (Arsenal) no último minuto da prorrogação?

Nenhum.

4) Quais os clubes do interior da Itália (ou seja, que sejam de cidades que não são capitais de região) que realizaram melhores campanhas em competições européias?

Parma, Atalanta e Vicenza, sendo os dois últimos empatados por chegarem até semifinais.

5) Quais integrantes originais do Clube dos 13 não tiveram jogadores em nenhum dos cinco títulos mundiais do Brasil?

Internacional e Bahia.

6) De que clube é esse distintivo?



Dica: é de uma federação européia que não pode disputar competições internacionais.

Chipre do Norte, ou Chipre turco.

7) Que estádio é esse?



Dica: fica em uma cidade do interior do Brasil e é utilizado por um time que já foi campeão estadual

Ipatingão.

8) Quem é o sujeito da foto?



Dica: era um destaque da Matonense campeã da Série A-2 de 1997.

Táxi.

9) Que time é esse? Não precisa indicar o nome dos jogadores, apenas apontar a equipe e sua importância.



Dica: único título adulto importante dessa seleção

Espanha campeã européia de 1964.

10) Que jogo foi esse?



Dica: final de Campeonato Brasileiro que terminou em 0 x 0

Atlético-MG x São Paulo, em 1977.

Cláudio Kristeller e Rodrigo Krüger caíram na pegadinha do Zaragoza x Arsenal, mas acertaram as outras 9 questões. Congratulações!

Ubiratan Leal

Para saber as respostas do Chutômetro 18, clique aqui.

Prestação de contas 2005

Penúltimo dia útil do ano, é hora de iniciar o balanço de 2005. Hoje, o Balípodo dá satisfação a seus leitores de todos os acertos e todas as bobagens escritas nesse espaço durante os últimos 365 dias. Porque o Balípodo tenta opinar com alguma base e consciência, mas também isso não impediu o site de dar seus palpites furados. E a página não vai colocar isso debaixo do tapete, fingindo que nada aconteceu para posar de sabichão depois.

Só entram nessa prestação de contas os textos em que havia análise com previsão ou opinião. Resenhas de livros e programas de TV, textos históricos, “e se” e outros tipos de artigos não serão considerados por não se enquadrarem no perfil dessa retrospectiva interna. Também estão excluídos os comentários de fatos consumados.

No mais, o Balípodo ratifica que acertar ou errar previsões é algo natural e é um risco calculado. O importante é que o site busca ter a postura mais isenta e analítica possível (e espera que isso seja suficiente para agradar aos leitores, claro). Para encerrar esse preâmbulo, lembrem-se que amanhã, no último dia útil de 2005, serão divulgados os ilustres vencedores do III PRÊMIO BALÍPODO DE MELHORES DO ANO. Não percam!

É nóis!
Se você lê o Balípodo diariamente (deveria ser recomendação médica), já sabia que...

...Internacional e Cruzeiro eram as melhores apostas de fora de São Paulo para o título brasileiro e que o colorado lutaria pelo título brasileiro a partir do momento que ganhasse confiança para os jogos decisivos (bem, o Cruzeiro não foi bem, mas se desfez de Fred... dá um desconto).

...o Atlético-MG estava mal no campeonato por problemas que iam da diretoria aos jogadores.

...o São Paulo teve um grande primeiro semestre porque soube antecipar sua preparação já em 2004.

...não se devia ter tanto entusiasmo com Luxemburgo no Real Madrid.

...a Itália tomaria consciência da precariedade de seus estádios.

...o Braga merece respeito, mas não tem condições de competir com Sporting, Porto e Benfica.

...o Villarreal tem um projeto sólido para montar um time competitivo em nível continental.

...a Portuguesa estava se reestruturando.

...Paulo Autuori enfrentava problemas pessoais no Peru e poderia sair da seleção do país.

...o Botafogo poderia, mesmo depois do bom início de campeonato, lutar no máximo pela Copa Sul-Americana (OK, isso era meio óbvio)

...a arquibancada tubular construída às pressas na Arena da Baixada não era uma solução correta.

...a França se recuperaria após a volta de Zidane (isso estava meio na cara, o Balípodo sabe).

...o AZ Alkmaar era uma aposta interessante para o Campeonato Holandês.

...o Chivas USA faria papelão na temporada de estréia na MLS.

...Santa Cruz e Grêmio eram os mais fortes candidatos ao acesso entre os oito finalistas da Série B.

...as “novas regras” da Fifa não mudariam nada no futebol em médio prazo.

Ops...
O Balípodo jura que tenta embasar seus textos, mas as vezes não dá certo, né? Veja só:

Mesmo depois de o Fluminense perder de 0 x 2 para o Corinthians em casa, o Balípodo ainda achava que o Tricolor carioca lutaria pelo título brasileiro.

O Balípodo apostou no River Plate na Libertadores. E ainda considerou grande a chance de o Atlético-PR nem passar da primeira fase da competição.

O Balípodo fez graça com a facilidade da chave que o Manchester United pegou na primeira fase da Liga dos Campeões.

O Balípodo apostou no Lyon, mesmo fora de casa, contra o PSV na Liga dos Campeões 2004-05.

O Balípodo achou que Markus Babbel teria um lugar na seleção alemã para a Copa.

O Balípodo viu um futuro recente nada animador ao Boca Juniors.

O Balípodo imaginou que a simples anulação dos 11 jogos serviria para continuar bem o Brasileirão (o Balípodo continua defendendo a decisão, mas reconhece que tão importante quando a decisão do STJD era a forma como ela seria tomada).

O Balípodo achou que, depois dos 3 x 2 em Abidjã, Camarões já tinha eliminado a Costa do Marfim da Copa.

O Balípodo não viu adversários à altura do DC United na MLS.

O Balípodo achou que o Al Ahly poderia complicar no Mundial de Clubes.

O Balípodo disse que era uma grande furada do Fluminesne contratar o Petkovic.

Ubiratan Leal

Obs.: infelizmente, o tilt do servidor do Balípodo impossibilitou que fossem colocados os links dos textos referidos nessa prestação de contas

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Uma visita à Arena da Baixada

Desde que acabou a era das obras monumentais no Brasil, na década de 1980, nenhum estádio teve tanto impacto no futebol brasileiro quanto a Arena da Baixada. A nova casa do Atlético-PR se vendeu como o estádio mais moderno do país, ganhou fama pela pressão que exerce sobre a equipe visitante e se tornou um ícone da identidade rubro-negra do Paraná. Com tudo isso, era inevitável que fosse tratado como uma atração turística de Curitiba.

Chegar ao estádio atleticano não é difícil, ainda mais para um paulistano, que está acostumado às distâncias bizarras de sua cidade natal, sobretudo quando envolve a ida ao longínquo Morumbi. Bastou pegar um ligeirinho, descer em alguma avenida do bairro Água Verde e seguir o restante à pé. Também ajuda o fato de não ter de fazer o trajeto com pressa, pois as visitas guiadas são realizadas a cada hora e é possível encaixar sua agenda de viagem sem problemas.

Logo de início, o que mais impressiona na Arena da Baixada (ou Kyocera Arena, como prefere o departamento de marketing do clube) é a fachada. É um vermelho e preto meio berrante e algo exagerado esteticamente (os atleticanos provavelmente não acharão, questão de gosto), mas o simples fato de existir uma fachada planejada é elogiável para a realidade brasileira.

Um adendo: à exceção de Pacaembu, Mangueirão e alguns outros raros casos que estejam escapando do Balípodo no momento, os projetos de estádio costumam ser pouco generosos do ponto de vista estético no Brasil. Os clubes (ou prefeituras) pensam apenas em erguer lances de arquibancadas (muitas vezes sem padrão algum) e, por fora, o que se vê é a parte de trás dessa estrutura. Não há preocupação em tratar o estádio como uma enorme edificação que tem uma grande influência no visual da região em que se localiza.

Bem, a Arena da Baixada tem fachada. E conta ainda com um barzinho bacana e um centro de informações turísticas oficial da cidade, deixando claro que aquele é considerado um importante ponto turístico da capital paranaense. Isso do lado de fora, sem que o turista/visitante/torcedor seja obrigado a pagar nada. Não que conhecer o estádio por dentro seja um investimento de peso, pois os R$ 3 por pessoa são mais que aceitáveis.

O passeio guiado é simples e segue um roteiro básico. O visitante pode conhecer os vestiários, sala de aquecimento, sala de imprensa e diversos setores da arquibancada, passar pela bela praça de alimentação e chegar à beira do gramado. O guia é bem informado e simpático e insiste em mostrar como todo é bastante planejado e em propagandear a política de ingressos caros que o Atlético-PR implementou desde 2004 (o que o Balípodo não concorda).

Realmente, a Arena da Baixada é um dos melhores estádios do Brasil e tem nível internacional. E é justo dizer que se tornou uma referência para quem quiser construir um estádio moderno para a realidade brasileira, até porque os atleticanos (e depois os coxas-brancas) provaram ao Brasil que, com um estádio confortável, o torcedor vai a campo apoiar seu time ao vivo.

Porém, a Arena não é fantástica a ponto de não poder ser igualada por outros clubes que tenham um projeto sério (difícil mesmo é achar alguém com projeto sério). E, claro, a casa rubro-negra está degraus abaixo dos grandes estádios europeus, como o Santiago Bernabéu e o Stade de France, em conforto, organização e qualidade de instalações. Mas é exagero insistir nessa comparação.

Mesmo assim, algumas coisas poderiam ter sido mais bem pensadas. A visão do torcedor visitante é muito prejudicada, algo que faz sentido para quem adota uma estratégia de pressão e intimidação sobre o adversário, mas não condiz com a modernidade absoluta. Além disso, o fato de alguns assentos não serem utilizados devido à presença de torres que bloqueiam a visão do torcedor também é um problema que poderia ter sido evitado.

Em relação ao passeio, ficou a sensação de que se viu apenas o básico, sem ter possibilidade atraente de conhecer algo for do convencional. Por exemplo, os tão falados (pela diretoria atleticana) camarotes. A explicação oficial é que, como os espaços são alugados, o locatário pode colocar bens pessoais no local e não seria recomendável que turistas entrassem lá. Mesmo assim, um camarote poderia estar disponível para os visitantes.

Por fim, não se pode deixar de mencionar a falta de um museu ou um memorial do Atlético-PR (vale lembrar que o Coritiba montou uma exposição de suas taças no Couto Pereira). Como o estádio tem um belo presente, mas não tem passado, era obrigação do clube mostrar sua própria história. Para os não-atleticanos, que provavelmente ainda vêem o Rubro-negro como um emergente no futebol brasileiro, seria interessante ver que aquele estádio foi construído por uma equipe tradicional e que têm várias conquistas. Um memorial poderia ainda dar um tom mais apaixonado à visita, que é muito fria e, nesse aspecto, carrega o lado negativo do estilo de profissionalismo pregado pela diretoria atleticana.

O clube alega que o memorial está no projeto para a nova ala do estádio, que será construída nos próximos anos. No entanto, era necessário fazer algo, mesmo que provisório, até a Arena ser completada.

Ubiratan Leal

terça-feira, dezembro 27, 2005

O legado francês no futebol

O futebol francês sempre foi visto com certa desconfiança. Afinal, a segunda nação mais rica da Europa (considerando que, no futebol, o Reino Unido é separado em quatro partes) nunca conseguiu ter um desempenho proporcional ao seu potencial. Sua liga é ofuscada pela dos vizinhos ingleses, italianos e espanhóis, os clubes gauleses só conquistaram duas vezes um torneio continental importante e a seleção vive de fases, sem se consolidar em longo prazo como uma potência. Mesmo assim, o mundo do futebol deve muito aos franceses. Afinal, eles foram os primeiros a ver o esporte de maneira global.

Basta ver que os três torneios mais importantes do planeta – a Copa do Mundo, a Liga dos Campeões e a Eurocopa – surgiram de cabeças francesas. O fato não deve ser ignorado e, por mais que possa existir muito de coincidência, ocorreu em parte por causa de fatores próprios do esporte francês.

O futebol começou a se estruturar nos países europeus na segunda metade do século XIX. Até a década de 1900, Inglaterra, Escócia, Irlanda (atual Irlanda do Norte), Gales, Dinamarca, Suíça, Holanda, Bélgica, Hungria, Romênia, Itália, Alemanha, Tchecoslováquia, Áustria, Noruega, Suécia, Finlândia e Luxemburgo já tinham federações nacionais. No entanto, a França não conseguia se inserir nesse meio devido a disputas internas.

No final do século XIX, os esportes mais populares do país ainda eram o rúgbi e o ciclismo. Para piorar, os franceses adeptos do futebol brigavam entre si. Foram criadas cinco entidades para regular o futebol gaulês. A mais importante, a USFSA (Union des Sociétés Françaises de Sports Athlétiques) tinha caráter poliesportivo, regulando não apenas o futebol, mas também rúgbi, hóquei sobre gelo, atletismo, esgrima, natação e ciclismo, entre outras modalidades. Uma espécie de CBD gaulesa.

O poder da USFSA sufocou as demais entidades que surgiram para o futebol francês, mas ela própria não fazia muito para desenvolver a modalidade. Partidária do amadorismo, a federação não simpatizava com o esporte que já se profissionalizara no Reino Unido e seguia pelo mesmo caminho na Europa Central. Além disso, o futebol era considerado muito “inglês” para os dirigentes da USFSA.

Mesmo assim, o crescente intercâmbio comercial e estudantil entre franceses e britânicos fez que o futebol ganhasse força na terra de Voltaire. A USFSA passou a organizar torneios, mas a modalidade estava desmobilizada e acabou centralizada em Paris nos primeiros anos. Foi quando Jules Rimet, presidente do Red Star, ganhou espaço como dirigente da USFSA.

Influenciado pelo sucesso do também francês Pierre de Fredy (o Barão de Coubertin) na recriação dos Jogos Olímpicos como grande evento esportivo internacional e ciente de como o futebol teria potencial para sair dos limites de cada país (uma necessidade francesa pela concorrência interna com outras modalidades), Rimet passou a propor a criação de um organismo que organizasse o esporte internacionalmente. O objetivo seria manter a uniformidade de regras e, claro, a realização de torneios entre equipes de nações diferentes.

A USFSA entrou em contato com federações nacionais de outros países e articulou a criação da Fifa. Mas não foi simples. Os franceses estavam tão determinados que aceitaram um embate direto com a Football Association (federação inglesa) em relação ao trabalho da entidade. Em princípio, a Fifa era contra o profissionalismo (orientação clara da USFSA) e defendia que cada país tivesse apenas uma federação, exigindo que ingleses, escoceses, irlandeses e galeses se juntassem futebolisticamente.

Os gauleses conseguiram fundar a Fifa ao lado de holandeses, belgas, dinamarqueses, suecos, suíços e espanhóis, mais viram os britânicos desdenharem da empreitada. De qualquer forma, foi dado o passo inicial para a criação da Copa do Mundo, em boa parte devido ao esforço dos franceses. Algo notável em um país em que o futebol mal conseguia vencer a concorrência de rúgbi e ciclismo.

A falta de sucesso da seleção francesa em Copas do Mundo não inibiu os gauleses a tentar internacionalizar o esporte. Havia uma demanda por mais competições entre países, mas era algo mal dimensionado e feito esporadicamente, sobretudo em amistosos ou em eventos intermitentes ou de âmbito puramente regional e/ou étnico (como o Torneio Internacional/Campeonato Britânico, a Copa Nórdica e a Copa Báltica).

Havia poucas exceções. A mais notável era a Copa América, mas era algo distante da realidade européia. Os outros dois casos era a Copa Mitropa e o Campeonato Centro Europeu (também conhecido como Copa Dr. Gerö). Essas duas competições foram criadas na década de 1920 pelo austríaco Hugo Meisl (o mesmo que treino o wunderteam da Áustria no início dos anos 1930) e tinham como méritos reunir as principais potências da Europa continental da época – as nações da Europa Central – e de ter alguma continuidade.

A Copa Mitropa e o Campeonato Centro Europeu deixaram no ar a idéia de reunir toda a Europa em competições de clubes e seleções. Algo que parecia óbvio, mas era necessário iniciativa. O que veio de dois franceses.

Depois de o Wolverhampton Wanderers, da Inglaterra, vencer amistosos contra os húngaros do Honved e os soviéticos do Spartak Moscou em 1954, o jornal inglês Daily Mail chamou os wolves de “campeões do mundo”. A falta de algo que parametrizasse tal título despertou um grupo de jornalista na redação do jornal francês L’Équipe.

Liderado pelo editor Gabriel Hanot, o periódico passou a publicar uma série de artigos e reportagens defendendo a criação de um campeonato de clubes europeus. O jornal desenvolve um ante-projeto para a competição e convida os campeões nacionais de diversos países. Muitos confirmam as presenças o L’Équipe dá início à organização da Copa dos Campeões da Europa.

Em fevereiro de 1955, poucos meses antes do início previsto do torneio, a Fifa – temendo as conseqüências de iniciativas independentes da estrutura oficial do futebol – avisou que o jornal não tinha competência e legitimidade para organizar uma competição internacional. Para que a Copa dos Campeões se tornasse realidade, foi necessário recorrer à Uefa, que fora fundada em 1954 e ainda não estava completamente organizada e consolidada internamente.

A Inglaterra não mandou representante por considerar que o Chelsea (campeão na temporada anterior) devesse se preocupar mais com o Campeonato Inglês. Mesmo assim, o torneio foi realizado e teve tamanho sucesso que nunca foi interrompido. Hoje, a idéia de um grupo de jornalistas franceses se transformou no maior torneio de clubes do mundo.

Nessa época, já haviam sido criadas as bases para o surgimento de outra competição de grande porte. Henri Delaunay, presidente da FFF (federação francesa, entidade que dirigiu a modalidade na França depois do fechamento da USFSA durante a Primeira Guerra Mundial), imaginava a disputa de um torneio entre seleções européias desde antes da criação da Copa dos Campeões. No entanto, não havia condições para a realização do torneio por falta de datas e de mobilização dos países.

Com o surgimento da Uefa e de um torneio oficial entre clubes, a idéia ganhou força. Mesmo assim, não foi fácil viabilizar o torneio. Várias federações importantes – como Alemanha Ocidental, Inglaterra, Itália, Suécia e Escócia – consideraram a idéia pouco promissora e não aceitaram o convite. Ainda assim, os entusiastas da Copa das Nações Européias (conhecida no Brasil como Eurocopa) conseguiram a inscrição de 17 países, um a mais do mínimo exigido pela Uefa.

Delaunay faleceu em 1955 e nunca viu sua proposta ganhar forma. Mesmo assim, sua importância foi é reconhecida. As finais da primeira Eurocopa, em 1960, foram realizadas na França como homenagem ao país que idealizara o torneio. Além disso, o troféu colocado em disputa leva, até hoje, o nome de Henri Delaunay.

Claro que esse pioneirismo francês foi facilitado pela soberba dos britânicos em relação ao futebol do resto do mundo e as dificuldades políticas enfrentadas por Alemanha e Europa Oriental na primeira metade do século XX. Mesmo assim, não se pode ignorar a mentalidade mais aberta e empreendedora de pessoas ligadas ao esporte gaulês. Até porque algum mérito a nação de onde vieram os criadores dos Jogos Olímpicos modernos, da Copa do Mundo, da Liga dos Campeões e da Eurocopa deve ter.

Ubiratan Leal

Imagens: Expert Football (Rimet), RAI (Hanot), Panorama Cutural (Delaunay), Fifa (R. Saint-Honoré e reunião 1913), Forum Bar du Foot (L'Équipe) e El Mundo (Euro 2004)

Obs.: as fotos na abertura do artigo são de, da esquerda para a direita, Rimet, Hanot e Dalaunay. O prédio parisiense que aparece é o local onde foi realizada a reunião que decidiu a fundação da Fifa

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segunda-feira, dezembro 26, 2005

A dinastia dos Romanov

O início da edição 2005-06 do Campeonato Escocês teve um elemento mais do que inusitado: a liderança, com 100% de aproveitamento, do Heart of Midlothian. Agora, com mais da metade do campeonato já passada, a classificação já tem contornos mais convencionais, sendo encabeçada pelo Celtic. Mesmo assim, os grenás de Edimburgo mostram solidez, se consolidando na segunda posição, 13 pontos à frente do Rangers. Conseqüência imediata de uma complexa ligação entre Lituânia e Escócia que tem os Jambos como intermediários.

Em 2004, o Hearts estava em péssima situação financeira. O clube tinha dívidas de cerca de £ 22 milhões com o Bank of Scotland e não encontrava meios de zerar esse passivo. Tudo conseqüência de erros administrativos nos últimos 10 anos. Por exemplo, Chris Robinson, dono do Hearts, colocou ações do clube na Bolsa de Valores de Londres. Com a bolha de investimento em ações no futebol, os Jambos tiveram uma valorização de quase 700% em pouco tempo.

Robinson se empolgou e foi o único dirigente de equipe pequena a se juntar a Celtic e Rangers no rompimento com a Scottish Football League, entidade que englobava todos os times profissionais da Escócia. Com isso, os três clubes lideraram a formação da Scottish Premier League, composta apenas pelos integrantes da Primeira Divisão.

Porém, tudo começou a entrar em colapso. A diferença de tamanho e interesses entre Celtic e Rangers em relação aos demais clubes escoceses se mostrou insuperável. Com olhos nas competições européias, os grandes de Glasgow gastavam mais dinheiro do que podiam, mas, por meio de chantagem (ameaças de se integrar à liga inglesa), conseguiam aumentar suas participações no rateio dos recursos do futebol escocês. Com medo de perder a companhia de Rangers e Celtic, os clubes pequenos aceitavam as exigências e se afundavam ainda mais nos próprios problemas financeiros.

Para piorar, a BSkyB, rede de televisão que tem os direitos de transmissão do Campeonato Escocês, só renovou o contrato em 2002 após uma redução nos valores acertados. Como muitos clubes haviam contratado jogadores esperando um aumento – ou, pelo menos, uma manutenção – nos números, o futebol escocês entrou em uma grave crise financeira.

Diante desse cenário, o Parlamento da Escócia se viu obrigado a intervir. Os clubes tiveram de organizar suas finanças, que teriam supervisão direta da liga. Para o Hearts, a solução para contornar os débitos foi vender o histórico estádio de Tynecastle Park, construído em 1932, para Cala Holmes, empresário do setor imobiliário. Enquanto isso, os Jambos teriam de utilizar o Murrayfield, casa da seleção escocesa de rúgbi.

O problema é que o estádio, com seus 67 mil lugares (o maior da Escócia), é superdimensionado para as necessidades do Hearts – no Tynecastle (foto) cabem 18 mil torcedores –, provavelmente ficaria vazio e sua utilização seria outra despesa alta para o caixa do clube. Torcedores criaram o movimento Save Our Hearts para atrair investidores, mas apenas um apareceu com uma proposta alta o suficiente para contornar os problemas dos grenás foi o banqueiro e industrial lituano Vladimir Romanov.

O empresário segue o perfil do indivíduo que se tornou milionário rapidamente no rescaldo do fim do comunismo na União Soviética. O principal acionista do Ukio (um dos principais bancos da Lituânia) tem uma fortuna de quase £ 300 milhões e gastava parte disso em clubes de futebol. Ele é proprietário do Kaunas da Lituânia e do MTZ de Belarus. Além disso, suspeita-se que teria participação no Saturn Ramenskoye, da Rússia, e que estaria em contato para comprar o Torpedo Kutaisi, da Geórgia.

Porém, como já ocorrera com Roman Abramovich, o desejo do lituano era entrar no futebol britânico. Romanov flertou com o Dundee e o Dundee United, porém, soube reconhecer o potencial que representa o mercado de Edimburgo (um dos principais centros financeiros da Europa) e o Hearts (um dos maiores entre os clubes pequenos da Escócia).

Por apenas £ 4 milhões, o banqueiro comprou 55% das ações dos Jambos e encerrou as negociações com Cala Holmes. As dívidas não foram pagas, mas transferidas. No lugar do Bank of Scotland, o credor passava a ser o banco Ukio, que cobraria juros abaixo do mercado. Aliás, esse recém-criado vínculo entre o passivo dos Jambos e o Ukio deixou a torcida desconfiada e aumentou as suspeitas sobre os reais interesses do empresário.

De qualquer forma, Romanov investiu no elenco, percebendo que não seria muito difícil recuperar seus investimentos no atual futebol escocês. Os primeiros reforços foram Mikoliunas e Kizys, dois lituanos que estavam no Kaunas. Em seguida, o clube lituano contratou Jankauskas, Cesnaukis e o tcheco Bednar. Os três foram emprestados ao Hearts.

Sob o comando de George Burley, os resultados chegaram rapidamente. O clube iniciou a campanha com nove vitórias, recorde na história do clube. Porém, isso não foi o suficiente para deixar o Hearts longe de crises internas.

Romanov tem um estilo de direção bastante autoritário. Assim, mesmo com a boa campanha do time, continuou trazendo jogadores, casos de Ibrahim Tall e do brasileiro Camazzola (ex-Juventude). Atitudes como essa desagradaram Burley, que se demitiu. Em seguida, saíram o diretor-geral George Faulkes e o diretor-executivo Phil Anderton. Sempre pelo mesmo motivo.

O objetivo do lituano era evitar que a comissão técnica tivesse muita influência na negociação de reforços, uma medida bastante esquisita. Para o lugar de Burley, foi contratado Graham Rix, que estava esquecido em clubes pequenos da Inglaterra. E o diretor-geral passou a ser Roman Romanov, filho de Vladimir.

Ainda assim, o Hearts se mostra firme na vice-liderança do Campeonato Escocês. A vantagem de sete pontos para o Hibernian, 12 para o Kilmarnock e 13 para o Rangers, a tendência é que os grenás de Edimburgo fiquem com a segunda vaga do país na Liga dos Campeões da próxima temporada. E o desejo de Romanov, de ver o Hearts disputando o título da maior competição de clubes do mundo (algo meio fora da realidade) continua em pé.

Ubiratan Leal

Imagens: BBC e Rainbowhearts (estádio)

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sexta-feira, dezembro 23, 2005

E se a MSI não existisse?

Se o São Paulo não tivesse conquistado o Mundial de Clubes, o principal assunto da imprensa esportiva brasileira nesse final de ano teria sido o título do Corinthians. Não apenas por se tratar de um dos clubes mais populares (e que dá maior audiência) do país, mas também pelas circunstâncias em que tudo ocorreu. Dos investimentos milionários ao favorecimento de Márcio Rezende de Freitas no Corinthians x Internacional, o fato de ter a MSI ao seu lado chamou a antipatia e desconfiança para os corintianos. Mas o que aconteceria ao Alvinegro se a empresa de “investimentos em mídia esportiva” nunca tivesse aparecido no Parque São Jorge?

Não seria muito difícil projetar o 2005 corintiano sem as libras (a empresa é inglesa, né?) de Kia Joorabchian. O cenário no final de 2004 era bastante claro e evidente. Sem muito dinheiro, o clube apostara em um grupo jovem que tinha como destaques isolados Fábio Costa, Ânderson, Fabinho e Gil. No banco, Tite conseguira unificar o grupo, criando um conjunto estável e com resultados relativamente satisfatórios para um elenco nada extravagante.

A tendência é que, após o quinto lugar no Brasileirão de 2004, a política ganhasse força dentro do Parque São Jorge e fosse mantida para o ano seguinte. Precisando de dinheiro, o clube não faria força para evitar a ida de Fabinho para o Japão. O mesmo vale para Ânderson, que despertara o interesse do Benfica e ficaria no Corinthians apenas no primeiro semestre.

De qualquer forma, a base seria mantida, com Marinho no lugar de Váldson na zaga e a chegada de Marcelo Mattos, único reforço mais significativo do clube no início do ano. Melhor opção na armação, Fábio Baiano seria mantido a pedido de Tite, por mais que os termos da renovação tenham desagradado à diretoria. No ataque, Alberto teria nova chance na falta de outro artilheiro de vocação. O time seria Fábio Costa; Marinho, Betão e Wendell; Édson, Marcelo Mattos, Rosinei, Fininho e Fábio Baiano; Alberto (Bobô) e Gil.

A campanha no Paulistão seria sonolenta. O São Paulo dispararia na liderança, acompanhado de longe por Santos, São Caetano e Santo André. Com um futebol pouco confiável, o Corinthians teria muitas dificuldades em furas as fechadas defesas das equipes do interior e não seria incisivo suficiente para decidir nos clássicos. Com uma coleção de placares apertados, o alvinegro terminaria em sexto lugar no Paulistão e teria como único consolo ter feito uma campanha melhor que o Palmeiras.

Na Copa do Brasil, o time passaria pelo Cianorte em dois jogos tecnicamente muito fracos (0 x 0 em Maringá e 2 x 0 para o Corinthians no Pacaembu). Na fase seguinte, a equipe superaria o Figueirense em duas outras partidas monótonas. A boa atuação de Cléber e Édson Bastos impediria qualquer insinuação do ataque corintiano. Com a defesa bem fechada, o alvinegro paulista também rechaçaria as ofensivas do alvinegro catarinense. E, após duplo 0 x 0, a disputa foi para os pênaltis. Com Fábio Costa em momento de sorte, o Corinthians venceria por 4 x 3 avançaria para as quartas-de-final.

Nessa fase, o Corinthians chegaria com excesso de confiança contra o Paulista. Porém, a equipe jundiaiense estaria embalada e surpreenderia os alvinegros. No Pacaembu, o clube paulistano contaria com uma pequena ajuda da arbitragem para segurar o 1 x 1. No Jaime Cintra, os comandados por Tite não conseguiriam segurar o embalo do Galo da Japi e perderiam por 1 x 3.

A campanha pouco empolgante no Estadual e a queda prematura na Copa do Brasil dariam início a uma crise no Parque São Jorge. Até porque São Paulo e Santos demonstrariam força na Libertadores, aumentando a pressão dos corintianos por um time melhor. O objetivo seria encontrar um zagueiro, um meia de armação, um lateral-esquerdo e um artilheiro (já que Alberto não se firmaria no time e ficaria na reserva de Bobô).

Com recursos limitados, a margem de manobra do Corinthians seria baixa. As saídas de Fabinho e Ânderson teriam ajudado a melhorar a situação do caixa alvinegro. No meio do ano, Gil, extremamente desmotivado, também deixaria o clube.

Empresários tentariam levar o atacante Vágner Love, do CSKA Moscou, ao Parque São Jorge. No entanto, a diretoria estaria ciente dos valores necessários para contratar o ex-palmeirense e contestaria qualquer boato de que o artilheiro da Série B de 2003 estaria chegando. O clube optou por um jogador muito mais barato: Finazzi, goleador do Paulistão pelo América de Rio Preto. Ao seu lado, Tite colocaria Jô, jovem de características (e talento para desperdiçar gols) mais ou menos parecido com Gil.

O principal reforço viria para a defesa. Depois de o Palmeiras demonstrar interesse no repatriamento de Gamarra, os corintianos evocariam a história do zagueiro no clube para atravessar as negociações e levar o paraguaio ao Parque São Jorge, o que acirraria ainda mais a rivalidade entre os clubes. Nas demais posições, Tite seria obrigado a improvisar ou antecipar a promoção de algum garoto das categorias de base.

No Brasileirão, o time aproveitaria a instabilidade de todas as equipes no início do torneio para se colocar no pelotão da frente (composto por mais da metade dos participantes, a bem da verdade). O Corinthians seria uma das equipes mais difíceis de ser superadas, no entanto, pecaria pela falta de objetividade de seu ataque e reuniria uma quantidade muito grande de empates.

No meio do primeiro turno, o time conseguiria uma seqüência de resultados positivos, incluindo um 1 x 0 sobre o Palmeiras e um empate em 1 x 1 com o Santos na Vila Belmiro, e passaria a brigar por uma vaga na Libertadores. No entanto, igualdades contra equipes mais fracas recolocariam os corintianos no grupo que lutariam pela Copa Sul-Americana. Na metade do campeonato, Corinthians e Paraná disputariam o título de melhor defesa do campeonato. O título estaria entre Internacional, Santos, Goiás e Fluminense.

O segundo turno começaria mal para os alvinegros. Derrotas para Juventude e São Paulo, além de empate no Pacaembu contra o Botafogo faria os mais exaltados falarem em fugir do rebaixamento. Em campo, o time já sentia os efeitos da instabilidade política do clube, uma vez que os dirigentes estariam mais preocupados com a eleição do início de 2006 do que com o futebol em si.

Precisando de bons resultados no final do ano para ter mais força política, a diretoria demitiria Tite, contratando para seu lugar Antônio Lopes. O objetivo, em teoria, era que o novo técnico fizesse no Parque São Jorge um trabalho semelhante ao realizado com o Atlético-PR no primeiro semestre.

A troca de comando não mudaria a trajetória corintiana no Brasileirão. O técnico daria ainda mais ênfase ao trabalho defensivo, mas a vocação de acumular vitórias por 1 x 0 se manteria até o final da competição. No decorrer do returno, a equipe ganharia posições devido à falta de consistência de Santos, Botafogo, Paraná e Cruzeiro. Sem praticamente ser notado durante o torneio, o Corinthians lutaria com o Palmeiras pela quinta posição.

Nas rodadas finais, o alviverde, comandado por Juninho Paulista e Marcinho, daria uma arrancada e conseguiria uma improvável vaga na Libertadores, tirando proveito da queda brutal do Fluminense na competição. O único interesse do Corinthians seria na última rodada. E, no caso de Gamarra, Betão (que evoluiu assustadoramente com a companhia do paraguaio), Rosinei e Fábio Costa, de assegurar um lugar entre os melhores do campeonato.

O Alvinegro iria a Goiânia enfrentar o Goiás. Vice-líder do campeonato, o alviverde seria a única equipe que acompanharia o ritmo do Internacional na disputa pelo título. Na última rodada, os goianos precisariam de uma vitória sobre os paulistas e de um tropeço do colorado contra o desesperado Coritiba no Paraná.

Na semana que antecederia a decisão, falaria-se muito de uma suposta “mala preta” do Internacional para que o Corinthians dificultasse o jogo contra o Goiás. Os corintianos se diriam profissionais e prometeriam atuar com determinação, por mais que não tivessem mais interesse na competição (a vaga na Sul-Americana já seria uma certeza).

No primeiro minuto da última rodada, o Coritiba faria 1 x 0 no Internacional e colocaria o Goiás a uma vitória do inédito título. No entanto, essa possibilidade deixaria o time goiano ainda mais ansioso e desesperado. Com uma defesa sólida e tranqüila, o Corinthians anularia Rodrigo Tabata e não daria espaço para o apoio dos laterais Jadílson e Paulo Baier.

Sem ter a capacidade de concentração para buscar alternativas, o Goiás partiria para ataques desesperados, com cruzamentos da intermediária e precipitados chutes de fora da área. Seguro, Fábio Costa manteria o 0 x 0 para agonia dos torcedores goianos que lotaram o Serra Dourada.

Aos 30 minutos do segundo tempo, após uma desatenção do meio-campo alviverde, Rosinei puxaria um contra-ataque, lançando para Jô na esquerda. O atacante aproveitaria o espaço aberto por Paulo Baier para avançar e cruzar para Finazzi, livre, tocar na saída de Harley.

O gol corintiano acabaria com a partida na prática. Arrasados psicologicamente, os goianos ficariam sem ação nos 15 minutos finais. A vitória do Alvinegro daria o título ao Internacional, que conquistaria seu primeiro Brasileirão desde 1979 mesmo com a derrota para o rebaixado Coritiba. Boa parte da imprensa faria menção à honestidade corintiana de, mesmo sem interesse no jogo, atuar com determinação na última rodada.

E, se em São Paulo só se falaria na conquista do Mundial por parte do Tricolor paulista, o Rio Grande do Sul celebraria os “heróicos” e inusitados títulos de Internacional, na Série A, e Grêmio, na B.

Ubiratan Leal

Imagens: Terra

Obs.: Esse “artigo” é uma obra de ficção e, portanto, não deve ser levado a sério. Nenhuma das pessoas, empresas, entidades ou associações citadas no texto foi efetivamente entrevistada ou consultada. Ah, e como ninguém aqui tem talento para ler mãos, i-ching, tarô, búzios, mapa astral ou bola de cristal, qualquer semelhança com a vida real foi uma grande coincidência

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Expresso da Bola

Em “Futebol – O Brasil em Campo”, o inglês Alex Bellos retratou diversos aspectos do futebol dentro da cultura brasileira. E para mostrar como essa faceta futebolística do brasileiro se espalhava pelo mundo, iniciou o livro justamente mostrando as Ilhas Faroe e a vida de um grupo de jogadores brasileiros no arquipélago escandinavo. Isso mostra o potencial jornalístico de aproveitar a quase onipresença do futebol brasileiro pelo mundo. Até por isso, a Sportv lançou um programa com esse perfil. Mas é uma pena que “Expresso da Bola” priorize o oba-oba a ponto de se transformar quase em uma seqüência de chavões.

Fica claro que o problema é o enfoque. Ao invés de mostrar com um olhar crítico a realidade dos jogadores, alguns bem-sucedidos, outros em dificuldade, prefere mostrar que tudo é lindo e maravilhoso. Os únicos reveses enfrentados pelos brasileiros estão ligados à saudade do Brasil. E esse assunto sempre é tratado de maneira ufanista, como se o Brasil fosse o único lugar do mundo em que alguém poderia ser realmente feliz e como se os únicos jogadores bons de cada time europeu fossem os brasileiros.

Além disso, a forma de retratar os países é ingênua e infantil. O texto insiste no óbvio (dizer que a Finlândia é fria, por exemplo), é repetitivo (dizer cinco vezes que a Finlândia é fria, por exemplo) e com tom de narração que parece voltado a uma criança de cinco anos (“Essa é a Finlândia. A Finlândia é um país muito frio. É frio, porque está longe do Equador, quase no Pólo Norte”, por exemplo).

Quando o assunto é seleção brasileira, a linha se torna ainda mais caricata. Ignora as eventuais dificuldades e trata tudo de forma positiva (muitas vezes abusando do direito de exagerar). Não há o menor senso crítico, a ponto de dizer que a apática apresentação do Brasil no primeiro tempo contra os Emirados Árabes era culpa da falta de qualidade dos anfitriões. E, claro, nenhuma menção à inutilidade técnica desse amistoso.

No fundo, parece um informe oficial da CBF tentando mostrar um mundo maravilhoso e deslumbrante. Como as propagandas do governo norte-americano tentando justificar o gasto militar ao defender que o exército é “legal” e cheio de soldados felizes e realizados. Uma pena, pois seria a oportunidade de mostrar vários pontos do mundo e como o futebol brasileiro se inseriu nesse contexto.

Ubiratan Leal

terça-feira, dezembro 20, 2005

Chutômetro nº18

1) Qual a importância do trio Simpson, Ayerton e Williams no futebol internacional?

Simpson e Ayerton foram os arquitetos e William, o engenheiro responsáveis pelas obras do estádio de Wembley (o original).

2) Que integrante do Real Madrid pentacampeão europeu na década de 1950 foi campeão espanhol como técnico de um clube pequeno?

Alfredo Di Stéfano, técnico do Valencia campeão espanhol de 1971 (quando a pergunta foi feita, o Balípodo não podia imaginar que o ex-craque teria um ataque cardíaco).

3) Qual foi a primeira Liga dos Campeões em que nenhum dos finalistas havia sido campeão nacional na temporada anterior?

1998-99, com Manchester United x Bayern de Munique (ambos vice-campeões nacionais na temporada anterior).

4) Qual foi o último jogador a participar de uma Copa do Mundo tendo em seu currículo uma passagem pela Portuguesa? (para ficar bem claro: não precisa ser necessariamente um jogador que foi convocado enquanto defendia a Lusa. Pode um jogador que, quando foi convocado para uma Copa, tinha passado pela Rubro-Verde)

O paraguaio Estanislao Struway, na Copa de 2002.

5) Por causa da Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo teve duas edições canceladas. Assim, houve um intervalo de 12 anos entre os Mundiais de França e Brasil. Qual o único jogador a participar de ambas Copas?

Na verdade, era dois: o suíço Alfred Bickel e o sueco Erik Nilsson.

6) De que clube é esse distintivo?



Dica: deveria ter disputado um Mundial de Clubes

Olimpia de Honduras.

7) Que estádio é esse?



Dica: já sediou Copas do Mundo e é popularmente chamado com mesmo nome de um estádio mundialmente famoso

Estádio La Bombonera, de Toluca.

8) Quem é o sujeito da foto?



Dica: foi técnico e já faleceu

Orlando Lelé.

9) Que time é esse? Não precisa indicar o nome dos jogadores, apenas apontar a equipe e sua importância.



Dica: conquistou um título continental surpreendente

Peru campeão da Copa América de 1975.

10) Que jogo foi esse?



Dica: mata-mata em torneio importante da década de 1980

Espanha 1 x 1 Dinamarca (5 x 4 Espanha nos pênaltis) pelas semifinais da Eurocopa de 1984.

Houve um único acertador das 10 questões. Saudações a Cláudio Kristeller!

Ubiratan Leal

Obs.: Para ver as respostas do Chutômetro 17, clique aqui.

Trombetas de 19 de dezembro

O Apocalipse se aproxima. Não adianta fazer nada, pois o processo é irreversível. Para alertar seus leitores, o Balípodo mostra as evidências de que as trombetas já anunciam o fim do mundo.

* Teoricamente, um clube da Costa Rica pode ser considerado o terceiro do mundo.

* A invencibilidade de 1014 minutos do Liverpool (sem contar os acréscimos de jogos) caiu com um gol de... Mineiro.

* O Al Ahly, que estava invicto há 55 jogos, perdeu para Al Ittihad e Sydney.

* O Lyon perdeu uma partida na Ligue 1 francesa.

* Há jornalista que tem coragem de dizer que a MSI pode contratar Ronaldo. E não é o veterano goleiro, mas o atacante do Real Madrid mesmo.

* O Palmeiras pretende montar um time fortíssimo para 2006. Já trouxe Enílton, Edmundo, Paulo Baier e Márcio Careca. E fala em Rodrigo Fabri

* O Internacional acha que Rubens Cardoso é um bom substituto para um dos melhores laterais-esquerdo do campeonato.

* O Manchester United ficou em último em um grupo que tinha Villarreal, Benfica e Lille na Liga dos Campeões.

* Depois de 15 rodadas no Campeonato Português, o Benfica é 5º e o Sporting, 6º.

* Não bastasse Bahia e Vitória estarem na Série C, ainda tem gente que propõe a fusão entre os clubes.

* O Atlético-MG está na Série B.

...o pior é que há os que já acham isso tudo normal.

Ubiratan Leal

segunda-feira, dezembro 19, 2005

São Paulo soube ganhar o Mundial

Números muitas vezes servem para confirmar uma teoria ou quantificar um fato. Porém, os algarismos são extremamente imprecisos para descrever a final do Mundial de Clubes entre São Paulo e Liverpool. Afinal, os 21 arremates, 17 escanteios, uma bola na trave e três grandes defesas de Rogério Ceni conseguidos pelo Liverpool impressionam diante das duas finalizações, nenhum escanteio, nenhuma bola na trave e nenhuma defesa importante de Reina logrados pelos paulistas. Ainda assim, a vitória do São Paulo foi merecida pelo que ocorreu em campo. Justamente porque o Tricolor, a despeito dos números, soube vencer o campeão europeu.

Logo no primeiro minuto de jogo, Gerrard, o principal jogador do time inglês, foi para a ponta direita e encontrou Morientes livre. O espanhol errou a cabeçada, mas passou a sensação de que o Liverpool se imporia diante dos brasileiros. Esse momento foi o único em que o São Paulo pareceu não ter o jogo em seu controle. A partir daí, os tricolores mostraram como estavam preparados para anular os reds e conduzir o duelo de acordo com suas possibilidades.

O Liverpool entrou em campo com Morientes, o mais técnico de seus três homens de área. No entanto, o espanhol não tinha a mesma presença de Crouch (que, ao contrário do que dizem ou dão a entender, faz mais gols com o pé do que com a cabeça) na área e não se movimenta com tanta facilidade quanto Cissé. Com isso, não foi difícil para o trio de zagueiros são-paulinos (Lugano, Edcarlos e Fabão) isolar o atacante.

Para isso, o meio-campo teve um papel fundamental. Júnior e Danilo marcavam Gerrard quando o inglês avançava pela direita. Caso o capitão do Liverpool tentasse uma jogada pelo meio, tinha de encarar o combate de Josué e Mineiro, ambos em jornada inspirada.

Com seu principal jogador “cercado”, o setor criativo dos reds era trôpego. Kewell conseguia alguma coisa no duelo com Cicinho. Mesmo assim, o australiano acabava caindo pela lateral e suas jogadas inevitavelmente se transformavam em cruzamento. E o jogo fluido que o Liverpool vinha apresentando, com toques rápidos, trocas de posições e domínio das ações sobre a defesa adversária, praticamente inexistiu.

O único jogador que realmente representava um perigo para os são-paulinos era Luís García. O espanhol aproveitava sua velocidade para aparecer como segundo atacante, algumas vezes sem receber a devida marcação de um zagueiro são-paulino. Ainda assim, a falta de oxigênio ofensivo do Liverpool foi tanta na primeira metade do jogo que as únicas chances efetivas foram em bolas paradas – duas cabeçadas de García, uma na trave e outra com defesa de Rogério Ceni.

Ofensivamente, o São Paulo contava, teoricamente, apenas com Aloísio e Amoroso, uma vez que Júnior e Cicinho não subiram tanto para não abrir buracos na armadilha defensiva tricolor. Aloísio ficava fixo, tentando abrir espaço no meio da zaga inglesa e servindo de referência para qualquer avanço brasileiro. Amoroso se movimentava mais, até porque ele era o encarregado de fazer a ligação entre o meio-campo e o ataque. A estratégia de ataque do São Paulo seria tímida e simplória se Autuori não contasse com dois volantes que soubessem conduzir a bola. Josué e Mineiro marcavam ferozmente e conseguiam levar a bola aos atacantes.

As táticas estavam apresentadas pelas duas equipes e a partida seguia mais pensada do que jogada. Era necessário algo que quebrasse essa harmonia. E foi o que fizeram Aloísio e Mineiro. O atacante são-paulino fez o papel que supostamente seria de Amoroso e voltou para buscar o jogo. Como ele era a referência do ataque, a defesa do Liverpool titubeou, na dúvida se estava havendo uma troca de posições ou se deveria seguir Aloísio.
Com isso, abriu-se um espaço entre Hyypia e Warnock para que Mineiro entrasse livre e recebesse em posição legal: 1 x 0. O resultado era justo porque o São Paulo atuava com inteligência. Anulou o ataque Liverpool e tinha um plano para furar a excelente defesa inglesa. Ou seja, o Tricolor tinha controle da situação.

No segundo tempo, Xabi Alonso passou a auxiliar na armação das jogadas do Liverpool, sobretudo com lançamentos longos. Nesse momento, Rafa Benítez mostrou esperteza para criar um elemento que desmontasse um pouco o esquema ofensivo do São Paulo. Amoroso foi obrigado a recuar e o ataque tricolor morreu no segundo tempo.

Porém, a equipe brasileira parecia preparada para aceitar a pressão adversária. Comandados por Lugano, os são-paulinos congestionaram a área e impediam que o Liverpool tivesse espaço para finalizar. A bola sempre encontrava um pé tricolor antes que os ataques ingleses fossem concluídos.

Os únicos momentos em que os reds criaram ações ofensivas completas (com começo, meio e fim) foi com Luís García entrando livre pela direita e finalizando para defesa à queima-roupa de Rogério Ceni e na jogada em que Lugano fez falta violenta em Gerrard após uma falha grotesca de posicionamento da defesa tricolor. A outra grande oportunidade inglesa foi em uma cobrança de falta (muito bem batida por Gerrard, mas que mostra a incapacidade de armar jogadas do Liverpool nesse domingo).

O domínio vermelho era falso. Era uma pressão desesperada, sem que houvesse um esquema que desse suporte a ela. O São Paulo em nenhum momento foi envolvido ou se viu realmente acuado. O torcedor tricolor que viu a partida pode até ter se sentido assim, mas isso é mais emoção natural do jogo do que um reflexo do que ocorria no gramado.

Por isso o São Paulo mereceu a vitória. Soube reagir de acordo com as situações apresentadas pela partida, como se estivesse preparado para cada cenário possível. Assim, até o domínio (nos números) do Liverpool pareceu algo previsto pela equipe de Autuori. Uma vitória que, apesar do tom desse artigo, não foi apenas tática. Foi técnica e de raça, pois o Tricolor tinha jogadores aptos e determinados a cumprirem os planos traçados. E a reverter o favoritismo do Liverpool, que era real, mas se mostrou frágil.

FICHA TÉCNICA
Liverpool 0 x 1 São Paulo
Final do Mundial de Clubes
Data:
18 de dezembro de 2005
Local: estádio Internacional, Yokohama-JAP
Público: 66.821 pagantes
Árbitro: Benito Archundia (México)
Liverpool: Reina; Finnan, Carragher, Hyypia e Warnock (Riise); Xabi Alonso, Sissoko (Sinama-Pongolle), Gerrard e Kewell; Luís García e Morientes (Crouch). T: Rafa Benítez
São Paulo: Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos; Cicinho, Mineiro, Josué, Júnior e Danilo; Amoroso e Aloísio (Grafite). T: Paulo Autuori
Gol: Mineiro (26/1º)
Cartões amarelos: Lugano e Rogério Ceni

Ubiratan Leal

sábado, dezembro 17, 2005

Divino – A Vida e a Arte de Ademir da Guia

Na onda de biografias ligadas ao futebol que surgiu nos últimos dez anos, era evidente que o maior jogador de um clube como o Palmeiras não deixaria de ser retratado em uma obra. Por isso, soou como algo natural o lançamento de “Divino – A Vida e a Arte de Ademir da Guia”, de Kleber Mazziero de Souza. No entanto, apesar de eficiente, a obra não pode ser considerada completa por passar rapidamente pelos assuntos.

Além de um “assunto” interessante, uma biografia precisa de histórias curiosas e desconhecidas, a visão de vários conhecidos (incluindo inimigos) sobre a personagem e, se possível, permitir uma análise psicológica da pessoa retratada. E, nesse ponto, “Divino” falha. O livro não chega a ser superficial (seria um exagero tratá-lo dessa maneira), mas passa a sensação de que poderia ir dois passos adiante em cada assunto.

A obra trata apenas da carreira de Ademir. Tem uma primeira parte em que mostra a tradição da família Da Guia no futebol, com pais Domingos e o tio Meio e de que forma isso influenciou o início do garoto Ademir no esporte. Nesse momento, a obra é feliz por abordar na dose certa os assuntos e não exagerar no detalhismo de capítulos que têm, claramente, uma função introdutória.

Em seguida, o autor retrata a carreira do maior jogador da história do Palmeiras. O problema é que o livro parece mais preocupado, em muitos momentos, a falar do que ocorria em campo, em como as duas Academias palmeirenses surgiram e qual a importância de Ademir nesse processo.

É óbvio que isso é o mais importante. No entanto, por ser uma biografia, a obra poderia contar com detalhes a relação do meia com o elenco, bastidores daquela equipe e a forma como Ademir via aquele período. O livro conta com histórias interessantes, mas sempre “por alto” e focando muito o que ocorria em campo.

Além disso, poucas pessoas foram ouvidas para falar desse período do Palmeiras. Personagens como Luís Pereira e Leão, por exemplo, poderiam acrescentar algo. Limitar-se a pessoas mais próximas do jogador, como Dudu e César Maluco, pode gerar mais “causos”, porém, dá um tom mais positivo à obra. Não chega a ser “oficial”, mas o texto corre sem que se perceba conflitos grandes na história. O que certamente não ocorreu de fato.

De qualquer forma, é um livro válido para os fãs do jogador ou palmeirenses que gostam de relembrar aquele período da história do clube. Até porque o livro não requer esforço ou dedicação especial para ser lido: um dia é suficiente para chegar até a última página.

Mais informações
“Divino – A Vida e a Arte de Ademir da Guia” foi publicado pela editora Gryphus e tem 222 páginas em capa dura. Sua última edição foi lançada em 2001.

Ubiratan Leal

Imagem: Saraiva

Quem é vivo... - Carlos Bossio

Sérgio Goycoechea nunca foi um goleiro dos mais confiáveis. Adepto das saídas em falso nos cruzamentos e praticamente de saltos pouco seguros nos arremates adversários, o argentino só conseguiu estabilidade como titular da seleção albiceleste devido aos pênaltis defendidos em 1990 e ao pouco cartaz de Islas diante de Carlos Bilardo e Alfio Basile. Ainda assim, foi considerado o último titular absoluto da camisa 1 da Argentina.

Nos últimos 10 anos, os argentinos buscam por um goleiro estável para sua seleção. Entre os vários nomes que surgiram, como “Nacho” González, Cristante, Costanzo, Scoponi, Lux, Bonano, Léo Franco, Caballero e Burgos, Carlos Bossio nunca teve tanto espaço, mas se destacou pelo seu comportamento peculiar.

Apelidado de “Chiquito” apesar de seu 1,94 m de altura, foi revelado pelo Estudiantes na mesma geração de Juan Sebastián Verón e Martín Palermo. O goleiro demonstrava alguma agilidade debaixo dos paus. Mesmo assim, o que lhe tornou famoso foram suas investidas no ataque. Dono de um chute bastante potente, Bossio cobrava faltas e pênaltis para os pinchas. E foi lembrado como opção para a seleção.

Isso lhe deu visibilidade suficiente para ir à Europa. Acabou no Benfica, clube que também procurava há anos um substituto à altura do belga Preud’homme, que passara pela Luz em 1995. Porém, Bossio não conseguiu se consolidar como titular. Pior, foi pego com passaporte comunitário falso e foi emprestado para o Vitória de Setúbal em 2002.

Depois de uma temporada na reserva do clube setubalense, Bossio voltou ao Benfica, mas ficou como terceiro reserva por duas temporadas. Em 2004, depois de ver frustrada sua passagem pela Europa, decidiu recomeçar. Com 31 anos, ganhou um lugar com a camisa 1 do Lanús.

Ubiratan Leal

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Sobra desinformação sobre a Copa

No rescaldo do sorteio de grupos para a Copa do Mundo, todos os veículos (ou quase todos) se arriscaram a fazer análises e palpites para o torneio. Mais um momento em que ficou visível como a visão da imprensa brasileira sobre as seleções estrangeiras é majoritariamente estereotipada. Pior para o leitor/ouvinte/telespectador, que inevitavelmente cai em uma dessas armadilhas e passa a reproduzir informações distorcidas.

A regra parece que foi apelar para o senso-comum e repetir infinitamente os fiapos de informação que sobraram da Copa passada. Assim, as análises e previsões para os grupos do Mundial foram superficiais. Independentemente de quem foi apontado como favorito, a descrição fugiu da realidade e pode levar a conclusões erradas.

Um exemplo claro é projetar na seleção da Polônia a imagem da Copa de 2002, quando o time era muito diferente (e pior) do atual. Não que os poloneses tenham uma seleção fortíssima, mas houve uma evolução nos últimos quatro anos. O mesmo vale para a Alemanha.

Outro equívoco bastante comum é desconhecer a mudança nas escalações das seleções. Não é necessário conhecer detalhes do time do Togo, mas não é exigir muito saber que Davids e Seedorf não são convocados pelo técnico da Holanda, Van Basten, que o ataque da Itália é formado por Gilardino e Toni (nada de Vieri) e que o craque da Inglaterra não é mais Beckham.

Se o comentarista é especializado em futebol brasileiro e não está devidamente atualizado sobre equipes européias, ele tem o direito e não saber tantos detalhes. Mas, por isso, teria o dever de deixar claro que sua análise é superficial e “por alto”. Porém, em época de Copa todos gostam de se passar por entendedores de futebol internacional.

Claro que ainda é prematuro condenar boa parte da imprensa. Ainda faltam seis meses para o Mundial e é possível se informar bem até lá. Mas o início não foi dos mais animadores.

Texto relacionado
Comentaristas do óbvio (espero que o link continue válido...)

Ubiratan Leal

terça-feira, dezembro 13, 2005

Chutômetro nº 17 (especial Copa)

1) Qual foi a última vez que a Holanda foi cabeça-de-chave em uma Copa?

1998.

2) A Copa de 2002 teve um recorde de 20 estádios. Antes disso, qual era o Mundial com mais estádios diferentes?

Espanha 1982, com 17: Santiago Bernabéu e Vicente Calderón (Madri), Camp Nou e Sarriá (Barcelona), Benito Villamarín e Sánchez Pizjuan (Sevilha), El Molinón (Gijón), Balaidos, (Vigo), Carlos Tartiere (Oviedo), José Rico Pérez (Alicante), José Zorrilla (Valladolid), Luis Casanova/Mestalla (Valencia), Riazor (La Coruña), San Mamés (Bilbao), La Romareda (Zaragoza), La Rosaleda (Málaga), Nuevo (Elche).

3) O time-base do Brasil campeão de 1962 tinha oito jogadores de Botafogo ou Santos. De que clubes eram os outros três?

Palmeiras (Djalma Santos e Vavá) e Zózimo (Bangu). Alguns citaram o Mauro. O zagueiro fez história no São Paulo, mas, em 1962, ele defendia o Santos.

4) Das seleções que estão na Copa, qual a única com retrospecto positivo em jogos contra o Brasil?

Irã (1 vitória iraniana e 1 empate).

5) Há quanto tempo (em anos e/ou em jogos) a Inglaterra não vence a Suécia?

37 anos, 11 jogos.

6) De que federação é esse distintivo?



Dica: é de um país que hoje tem um nome diferente do que tinha quando jogou uma Copa do Mundo.

Indonésia, ex-Índias Holandesas.

7) Que estádio é esse?



Dica: estádio que sediou Copa e tem nome em homenagem a um brasileiro. Detalhe: o estádio não fica no Brasil.

Carlos Dittborn, em Arica, Chile. Carlos Dittborn era carioca, filho de chilenos, e presidia o comitê organizador da Copa de 1962. Porém, morreu pouco antes do torneio ter início.

8) Quem é o sujeito da foto?



Dica: jogou quatro Copas e não ganhou nenhuma.

O atacante alemão-ocidental Uwe Seeler (na foto ele está com a camisa do Hamburg, seu único clube).

9) Que time é esse? Não precisa indicar o nome dos jogadores, apenas apontar a equipe e sua importância.



Dica: o teste está fácil, mas essa questão está moleza demais. Fica só uma dica: esse time não passou de fase.

Argélia de 1982, que venceu Alemanha Ocidental (2 x 1) e Chile (3 x 2) na Copa da Espanha, mas foi desclassificada após alemães-ocidentais e austríacos arranjarem o resultado de seu confrotno direto.

10) Que jogo foi esse?



Dica: um dos times teve de usar camisas emprestadas para jogar essa partida.

França 3 x 1 Hungria. Os franceses deveriam jogar de azul e os húngaros de branco. Porém, os gauleses levaram um jogo de camisas brancas. Depois de algum atraso, a França conseguiu o uniforme do Kimberley, pequeno clube de Mar del Plata, para jogar.

Ninguém acertou os 10 pontos, mas teve gente que chutou no travessão e a bola pingou em cima da linha... Congratulações a Daniel Silva, Cláudio Kristeller e à dupla Luiz Rossi e Kléber Nóbrega (palpite em conjunto), todos com 9 pontos.

Ubiratan Leal

Obs.: as respostas do Chutômetro 16 estão aqui.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Mundial de Clubes 2005

O sonho da Fifa de realizar um torneio mundial de clubes é antigo. Porém, quando se tornou realidade, em 2000, enfrentou um sério problema de legitimidade: já existia uma outra competição que era reconhecida por apontar o melhor clube do planeta. Depois de alguns anos com esse plano na gaveta, a entidade decidiu fazer o óbvio e uniu-se aos organizadores do torneio já existente para recriar o Mundial de Clubes.

A vantagem do novo formato é que continua relativamente atraente par aos clubes europeus, pode-se dizer mundial por ter clubes de todos os continentes e mantém o espírito que legitimou a Copa Intercontinental. E, como tem um time brasileiro em sua primeira edição, ganhou grande destaque na imprensa nacional. Até porque o São Paulo fez questão de lembrar o torneio a cada instante, deixando todo o segundo semestre de lado para se preparar para o Mundial.

A estratégia são-paulina se justifica, mas pode ter sido um pouco exagerada. Em um mundo utópico, o ideal seria o Tricolor ganhar a Libertadores, ter duas semanas de relaxamento, voltar a ganhar ritmo logo depois para tentar lutar pelo título brasileiro e chegar ao Japão embalado. Mas, claro seria exigir demais e os são-paulinos sabiam disso.

O plano do São Paulo foi muito claro: dedicou-se ao Brasileirão o tempo suficiente para se estabilizar na região morta da tabela e empurrou o final com a barriga. Tudo para descansar e ir ao Japão com seu elenco em boas condições físicas e psicológicas. A atitude tem um mérito grande e pouco comum aos times brasileiros que foi deixar claro a todos (sobretudo aos jogadores) que havia um torneio como prioridade. O mais comum no Brasil é um time vender a idéia de que prioriza uma competição, mas, na prática, dedica-se igualmente em todas as partidas

O problema é que o São Paulo pode ter exagerado na dose. A equipe tricolor ficou tão alheia ao Campeonato Brasileiro que está há meses sem disputar uma partida importante. Além de perder o ritmo de jogos sob pressão, o time pode sentir a instabilidade comum em início de temporada e até perder a consciência de sua capacidade real. De qualquer maneira, o clube do Morumbi tem dois atacantes capazes de desequilibrar (mesmo não sendo gênios), como Amoroso e Grafite, esse último se tiver condições físicas, um zagueiro que sabe liderar toda a defesa (Lugano), um goleiro que faz a diferença em uma noite afortunada (Rogério Ceni) e um lateral-direito que pode ser o elemento que desbalanceia a marcação adversária pela facilidade com que corre para a linha de fundo ou fecha pelo meio para concluir (Cicinho).

No mais, os possíveis efeitos negativos ou positivos da estratégia são-paulina só poderão ser analisados após os jogos. Por hora, é possível dizer que o São Paulo está em igualdade de condições com o Liverpool. Os ingleses estão em uma fase melhor, mas a possibilidade de estar descansado e a certeza de estar mais dedicado ao torneio são vantagens tricolores.

Veja um resumo de todos os adversários dos são-paulinos na luta pelo título mundial.

Entre os possíveis adversários das semifinais, o Al Ahly é o que mais pode complicar a trajetória tricolor. Não que os egípcios sejam uma grande potência, mas o fato de estar invicto há 55 jogos deve ser respeitado. Por mais que se pense que não é tão difícil escapar ileso de partidas do Campeonato Egípcio e da Liga dos Campeões Africanos, é de se admirar que, em tantas partidas, o time não sofra nenhum deslize, não sofre as conseqüências de uma inevitável jornada infeliz. Mostra que a equipe tem solidez coletiva. Individualmente, o destaque é o meia-atacante Mohammed Barakat e o atacante Mohamed Aboutraika. Ter um técnico com experiência internacional como o português Manuel José também pode ajudar. Vale dizer que o Al Ahly é talvez o clube mais popular dessa edição do Mundial de Clubes. O maior clube africano do século XX (segundo a Fifa) tem cerca de 40 milhões de torcedores e, claro, é o mais popular do Egito.

O adversário dos egípcios na primeira fase será o Al-Ittihad, da Arábia Saudita. O campeão asiático não tem um retrospecto tão impressionante quanto o Al Ahly, mas têm mais talento. O organizador do meio-campo é o brasileiro Tcheco, que ainda deixa saudades em Curitiba mesmo depois de uma passagem infeliz pelo Santos. No ataque, a referência é o leonês (de Serra Leoa) Mohammed Kallon. O jogador pode não ter dado certo na Internazionale (apesar de não ter sido um fracasso total), mas tem talento suficiente para merecer atenção especial pela habilidade e velocidade. Outro jogador digno de atenção e Mohammed Noor, principal meia da seleção saudita que vai à Alemanha. Como Pedrinho e Lima (além de Marcão) não tiveram suas inscrições aceitas pela Fifa, é provável que os árabes tenham de se sustentar nesse trio.

O time com menos chance de cruzar com o tricolor é o Sydney. O clube, que tem como um dos sócios o ator Anthony LaPaglia (o Jack Malone da série “Without a Trace”), foi fundado em novembro de 2004, com o surgimento da A-League, a liga australiana de futebol profissional. No início do ano, a entidade organizou um mini-torneio para indicar o representante da terra dos coalas na Copa dos Campeões da Oceania e o vencedor foi o Sydney. A equipe tem como destaque os meias Corica, que teve passagem por Leicester e Wolverhampton, e Zdrilic. Ambos vestiam a camisa verde-amarela no último encontro entre os socceroos e a Seleção Brasileira, na vitória dos aussies por 1 x 0 na Copa das Confederações de 2001. Outro jogador que merece atenção é o veterano atacante trinitino Dwight Yorke, ex-Manchester United. Quem também será mencionado será o japonês Kazuyoshi Miura, o Kazu, contratado pelo clube australiano como forma de angariar a simpatia dos torcedores nipônicos, mas que não deve fazer muita coisa aos 38 anos.

Já o Saprissa poderia até ser considerado um adversário de respeito se não estivesse na chave do Liverpool. O clube tem como proprietário o empresário mexicano Jorge Vergara, dono também das Chivas Guadalajara e do Chivas USA. Com recursos financeiros razoáveis e fiel ao princípio de contar apenas com jogadores nativos, o Monstruo Morado (Monstro Roxo) é base da seleção da Costa Rica. Pode parecer pouco, mas os costarriquenhos sempre fizeram papéis dignos nas competições internacionais (por exemplo, só foram desclassificados pela Turquia em 2002 no saldo de gols). Além disso, uma equipe que passou por adversários estruturados e relativamente ricos como Pumas Unam, Monterrey e Kansas City Wizards merece algum crédito. Os jogadores mais importantes são o atacante Ronald Gómez (autor do segundo gol dos ticos contra o Brasil na Copa de 2002), o meia de criação Walter Centeno e o zagueiro Reynaldo Parks.

Porém, nem o mais crédulo dos costarriquenhos tiraria do Liverpool o favoritismo para a vaga na final. Os reds já seriam candidatos naturais por serem campeões europeus, mas o retrospecto na atual temporada mostra como o time do técnico Rafael Benítez cresceu. Após um início de campanha instável no Campeonato Inglês, o Liverpool encontrou sua melhor formação e o jogo começou a fluir. Gerrard é o centro de tudo. O meia marca, carrega a bola, faz a armação e ainda conclui com poderosos chutes de longa distância. Os meias espanhóis Luís García e Xabi Alonso e os defensores Hyppia, Carragher e Riise dão consistência ao time, que não sofre gols há 10 partidas. Apenas o ataque é menos confiável. Crouch, recém-contratado do Southampton, é fraco tecnicamente e vive uma fase pouco feliz. Cissé também não é um artilheiro prolífico. Nesse cenário, não dá para entender como Morientes está no banco e porque Benítez não quis Michael Owen de volta no início da temporada. E é nesse ataque pouco nocivo que pode estar o sucesso dos adversários, sobretudo o São Paulo.

Ubiratan Leal

Manchado é exagero, mas chocho

Quando um time é campeão, o caminho mais fácil é pensar apenas nas glórias e esquecer dos problemas. É interpretar os fatos sempre de um ponto de vista positivo. Se o time ganhou no mata-mata após ir mal na primeira fase, “ganhou quando precisava”. Se foi o melhor o tempo todo, é porque “provou ser o melhor”. Porém, não é possível analisar o Brasileirão de 2005 e o título corintiano sem considerar os inúmeros problemas pelo caminho. Pelo menos agora.

Primeiro, os méritos corintianos. Em um torneio de pontos corridos, dá para se dizer que ganhou o melhor. O Corinthians não tinha um conjunto tão bom quanto o Inter ou jogou tão bonito quanto o Fluminense no meio do campeonato. Além disso, esbanjou instabilidade. Ainda assim, o Alvinegro fez mais pontos que os demais (depois o texto discute as anulações) e isso não foi gratuito.

O que tornou o Corinthians o melhor time (com as anulações) é o fato de ter, com muito dinheiro, montado um elenco muito melhor que os demais. E, se os talentos corintianos não mostraram todo seu futebol pelos problemas táticos e de ambiente interno, foi o suficiente para decidir várias partidas complicadas e dar esses pontos a mais. Os paulistas não foram os melhores em todos os quesitos, mas o item em que eram superiores bastou para sobrepujar os demais.

Além disso, é relativamente legítimo dizer que o Corinthians não ganhou nenhum ponto no tribunal. No máximo, ganhou uma nova oportunidade de disputá-los, mas os quatro pontos extras foram conquistados com uma vitória sobre o Santos e um empate com o São Paulo. E, mesmo sem esses pontos, talvez o Alvinegro paulistano conquistasse o título, pois estaria mais concentrado nas partidas decisivas e não perderia pontos tolos. Até porque, no meio do returno, o Corinthians conseguiu abrir uma confortável vantagem (descontando os pontos das anulações) diante dos demais.

Aliás, pensar nos jogos anulados como quatro pontos a mais ou a menos é simplista. Cada momento teve repercussões psicológicas impossíveis de se medir, e tanto podem ter prejudicado quanto ajudado cada clube nesse ponto de vista. Por isso, é mais correto assumir a pontuação final, pois representa o resultado de como os clubes foram se adaptando à nova realidade da tabela.

Por todos esses motivos, o título do Corinthians foi justo. No entanto, é incorreto ignorar vários aspectos que deixam mais chocha a comemoração corintiana. Falar em título manchado é exagero, até porque a anulação ou não dos jogos é uma questão de interpretação legal e o Ministério Público recomendou essa medida. Porém, a forma arbitrária como o STJD tomou sua decisão deixa um desconforto em todos (além de motivar, com alguma razão, ações judiciais que, no mínimo, exigem atitudes mais transparentes do tribunal desportivo).

Pior: se é possível dizer que os pontos dos jogos anulados foram se dispersando nas rodadas seguintes, o mesmo não pode ser dito do empate entre Corinthians e Internacional no Pacaembu após o erro de Márcio Rezende de Freitas. Os gaúchos tiveram todas as condições de recuperar os pontos que o Corinthians conquistou nas partidas refeitas. Mas não teve tempo de fazer o mesmo com os pontos do confronto direto, que ocorreu na antepenúltima rodada (por isso, o Balípodo considera que esse erro de arbitragem foi muito mais importante na classificação final do que os jogos anulados).

Se a isso for somado o fato de que, com recursos financeiros muito mais limitados, o colorado montou um time mais homogêneo, tecnicamente não muito inferior e coletivamente muito mais sólido, ficam vários “senões” girando em torno do título corintiano. Será que, simplesmente por ter o time mais rico, alguém é realmente o melhor? Nesse contexto, o fato de conquistar o título com derrota é algo menor, pois isso é comum em países que tradicionalmente adotam torneio em pontos corridos e já aconteceu bastante no Brasil, na época em que os Estaduais adotavam essa fórmula de disputa.

De qualquer forma, a conquista corintiana – que até pode ser justa e legítima (isso o tribunal resolve) – ficou apagada. Os torcedores têm todo o direito de comemorar (como os do Internacional terão se a Justiça anular a anulação dos jogos), se apegando aos méritos de seu time para deixar de lado as confusões desse campeonato emocionante e que consolidou os pontos corridos, mas que provou como as instituições do futebol não sabem lidar com os problemas causados por um único árbitro.

*


A derrota para o Coritiba teve um efeito gigantesco na causa do Internacional. Tecnicamente, o time até fez a melhor campanha se forem desconsiderados os jogos refeitos. Porém, o revés abalou moralmente o colorado na busca pelo “título moral”. Meio na linha “se vocês fossem tão bons e mereciam tanto o título, como puderam perder de um time rebaixado na partida decisiva?”.

Ubiratan Leal

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Dicas de navegação (8 de dezembro)

Blog do PVC
Paulo Vinícius Coelho é um dos comentaristas preferidos do Balípodo por sua postura profissional e conhecimento do futebol em todos os aspectos. E agora ele tem um blog! Clique aqui.

Prévia do sorteio
Você está um pouco perdido nas vésperas do sorteio da Copa? Não sabe quem é bom e quem é ruim? Acha que o ataque da Holanda ainda tem Kluivert e Overmars e que Rui Costa é o cérebro da seleção portuguesa? Então veja o especial do site FutebolEuropeu.com.br e conheça mais um pouco de cada uma das seleções classificadas para o Mundial.

Fifa lusófona
Muitos já deram essa notícia, mas não custa indicar também. O site oficial da Copa tem, agora, uma versão em português. Clique aqui.