sexta-feira, junho 29, 2007

As antigas copas continentais das Américas

O México, em mais uma etapa da aproximação das Américas no futebol, cogita organizar a Copa Pan-Americana, que reuniria seleções de todo o continente em 2009. Seria meio que uma soma de Copa Ouro e Copa América (não que essas duas seriam extintas, bem entendido), completando um processo histórico de junção de torneios de seleções. Como o que formou a Copa Ouro a partir da união das Américas do Norte e Central/Caribe. Continuação

É interessante apostar em latino-americanos

A Copa América tem sido uma agradável surpresa nas primeiras rodadas. Futebol ofensivo, com nível técnico mais que aceitável e alguns jogadores que não fariam feio se estivessem no Brasileirão. Isso valida a tese de quem vê nos vizinhos latino-americanos uma fonte interessante de reforços para os clubes brasileiros. E legitima um pouco a contratação de Biancucchi, Guiñazu e Bustos por parte de Flamengo, Internacional e Grêmio. Continuação

quinta-feira, junho 28, 2007

Alexi Lalas

Os Estados Unidos já não podem ser considerados uma nação completamente alheia ao futebol. Os norte-americanos chegaram às quartas-de-final da Copa do Mundo em 2002 e bater o México na Copa Ouro não é mais uma grande surpresa. Mesmo assim, a imagem do futebol do país ainda está ligada à geração da década de 1990. Sobretudo a Alexi Lalas. Continuação

quarta-feira, junho 27, 2007

Paul Breitner

Os alemães têm fama de frios e fechados, mas tal estereótipo não deve se aplicar ao futebol. Poucos países do mundo contam com jogadores e dirigentes tão polêmicos, que falam o que pensam à imprensa sem considerarem as eventuais conseqüências. Nesse universo, um dos precursores é Paul Breitner. Continuação

“País do Futebol” fez 10 anos e nada mudou

Foi em 1997. O jornal “Folha de São Paulo” lançou a audaciosa série de reportagens “País do Futebol”. Todo dia, ou quase isso, eram publicadas reportagens mostrando o estado em que estava o futebol brasileiro, da desorganização institucional à bagunça administrativa dos clubes, passando pela politicagem e queda de nível técnico do jogo praticado por aqui. Além de retratar a situação da época, a série ainda entrevistava especialistas nas áreas e propunha mudanças. Faz uma década, mas continua extremamente válido. Continuação

Escada abaixo

Obrigada a casar com Paris, Julieta toma uma poção para simular sua morte e criar uma situação em que conseguiria fugir com seu amado Romeu. Por um problema de comunicação, o filho dos Montecchi crê que sua amante está realmente morta e ingere um veneno mortal. Quando acorda, Julieta vê Romeu morto e se suicida com um punhal. É o fim para o casal, mas a morte de seus filhos faz que as nobres e rivais famílias Montecchio e Capuleto acertem as pazes. Continuação

terça-feira, junho 26, 2007

Trombetas de 25 de junho

O Apocalipse se aproxima. Não adianta fazer nada, pois o processo é irreversível. Para alertar seus leitores, o Balípodo mostra as evidências de que as trombetas já anunciam o fim do mundo. Continuação

Dicionário de seleções (Ásia)

Encerrando a longa série de dicionários de equipes, vejam os apelidos das principais seleções de Ásia e Oceania (na verdade, de Ásia e da Nova Zelândia, já que a Austrália é futebolisticamente asiática). Não há grande criatividade, apenas alguns nomes em língua original ou referências geográficas que soam diferentes. Continuação

sábado, junho 23, 2007

A copa que une três oceanos

A boa participação de Guadalupe na Copa Ouro – os caribenhos foram semifinalistas, caindo apenas diante do México – despertou o mundo para o status do futebol das colônias francesas. Afinal, elas não são filiadas à Fifa e respondem à federação francesa, mas têm uma certa autonomia. A ponto de realizarem torneios internos de clubes e disputarem, sob organização da FFF, uma copa que envolve clubes de três oceanos diferentes. Continuação

sexta-feira, junho 22, 2007

A incontrolável tentação de entrar em crise

O torcedor do Palmeiras é um italiano de alma. Mesmo se seus ascendentes não tenham nenhuma ligação com a Itália. O palestrino sofre e se alegra rapidamente, indo de um extremo ao outro do humor por quase nada. Assim, qualquer resultado ruim é suficiente para se ensaiar uma crise. Mesmo quando uma análise mais ampla mostra que o time ainda está em fase de consolidação. Continuação

quinta-feira, junho 21, 2007

O Dia em que Me Tornei...

Quando garotos (e, cada vez mais, garotas) nascem, o clichê básico é o pai colocar um macaquinho de seu time do coração no bebê. Plaquinha na porta do quarto da maternidade, brinquedos, idas ao estádio e outras coisas do tipo também fazem parte do repertório durante alguns anos. É o início do processo de catequização, em que o pai tenta manter que a linhagem futebolístico-familiar. Agora, há, pelo menos em São Paulo, mais uma ferramenta para convencer o pimpolho: livros. Continuação

quarta-feira, junho 20, 2007

Só metade do Real mereceu o título

Dizer que um título é justo dias depois de ele ser decidido é um dos maiores chavões do jornalismo esportivo. Err... bem... foi o caso do Real Madrid no Campeonato 2006-07. Mas com ressalvas. O torneio não teve vencedores, mas um monte de perdedores. Como o regulamento previa que alguém deveria sair campeão, ficou com a taça o time que soube ter uma atitude menos perdedora que os demais. Ou o que mostrou uma força de vontade ligeiramente maior que a capacidade de boicotar a própria campanha. Continuação

terça-feira, junho 19, 2007

E se a Holanda não tivesse Cruyff

1974. Após eliminatórias duríssimas, com a classificação sendo obtida após um empate sem gols contra a Bélgica, em Bruxelas, a Holanda voltava a uma Copa do Mundo após um hiato de 36 anos. Prestigiado pela façanha, o tcheco Frantisek Fadrhonc foi confirmado como técnico da Laranja na Alemanha, embora muitos pedissem por Rinus Michels, que vinha fazendo bom papel no Barcelona, embora sem títulos. Continuação

domingo, junho 17, 2007

Cruzeiro tem de recuperar o tempo perdido

Depois de um início aterrador no Brasileirão, o Cruzeiro se recuperou ligeiramente e já conseguiu alguns bons resultados. Assim, saiu da zona de perigo do campeonato e dá sinais de que pode fazer uma campanha digna. No entanto, o torcedor tem de ir com cautela e saber que o time ainda está sujeito à instabilidade. Afinal, a diretoria celeste fez muita coisa errada no começo do ano e ainda deve pagar o preço por isso. Continuação

quinta-feira, junho 14, 2007

Experimentalismo: uma idéia a ser pensada

Há alguns anos, José Trajano, diretor de jornalismo da ESPN Brasil, disse que o jornalismo esportivo brasileiro precisava de seu equivalente à Semana de Arte Moderna de 1922. Simplificadamente, ele falava da necessidade de se recomeçar tudo, criando um novo jornalismo esportivo com base em outros parâmetros. Pode parecer um exagero, mas é uma idéia a ser levada em consideração. Continuação

quarta-feira, junho 13, 2007

Copa América 2004

A Copa América do Peru foi originalmente programada para 2003. No entanto, os peruanos pediram mais um ano para se prepararem, no que foram atendidos. Com isso, foi a primeira edição da história da competição sul-americana a ser disputada no mesmo ano de uma Eurocopa, o que permitiu inevitáveis comparações no nível técnico dos dois torneios. Continuação

terça-feira, junho 12, 2007

Finalistas de estilos contrastantes

Dois sobreviventes. Assim podem ser definidos os finalistas da Copa Libertadores da América 2007. Boca Juniors e Grêmio chegaram à decisão sempre atuando no limite da desclassificação, usando as partidas em casa para compensar os resultados negativos fora e tendo de se superar a cada momento. Isso já dá uma idéia de como o eventual campeão sofrerá para superar o adversário, por mais que as equipes sejam muito diferentes em campo. Continuação

quarta-feira, junho 06, 2007

O futebol segundo os fascistas

Augusto Turati ainda era jovem quando começou a trabalhar no jornal Provincia di Brescia, em que chegou ao cargo de editor. Em 1915, com 27 anos, se alistou no exército para combater pela Itália na Primeira Guerra Mundial. Com o fim dos combates, voltou para Brescia condecorado e começou sua atividade política. Em 1921, entrou no PNF (Partito Nazionale Fascista) e rapidamente se tornou líder na região de Brescia. Cinco anos depois, se tornou secretário nacional do partido e usou al influência para entrar gradualmente no mundo do esporte, justificando sua presença neste texto.

No início, Turati tinha ligações com a esgrima – modalidade na qual chegou a competir –, tênis e atletismo. Foi, inclusive, dirigente das federações italianas desses três esportes. Em 1928, assumiu a presidência do Coni (Comitê Olímpico Italiano, entidade que praticamente rege o esporte na Bota) e, dois anos depois, foi membro do COI.

Uma biografia como essa era perfeita para um projeto inusitado do governo fascista. Mussolini via com contrariedade a rapidez com que o futebol crescia na Itália. Como em boa parte do mundo, a Bota foi apresentada ao esporte pelos ingleses que viviam ou passavam pelo país. Tanto que os primeiros clubes tinham nomes ingleses e eram ligados a comunidade britânica, casos de Genoa e Milan.

Esse fenômeno não ajudava a espalhar a ideologia nacionalista radical de nazistas e fascistas, apesar de ter sido usado. O líder alemão Adolf Hitler não gostava de futebol, mas reconheceu a capacidade de angariar politicamente com o jogo inglês. O espanhol Francisco Franco era adepto do esporte e se aproximou bastante da federação espanhola e do Real Madrid.

Isso não ocorria com Mussolini. O regime fascista usava o passado do Império Romano e o poderio das cidades italianas na Idade Média como se fosse mostras da poderosa história da Itália-nação. Seria inadmissível para Il Duce ver um esporte inglês crescendo no local em que foram criadas modalidades parecidas, como o harpastum (romanos) e calcio fiorentino (Florença medieval).

O governo italiano estava decidido a mudar esse cenário e, no final da década de 1920, chamou Turati. Sua tarefa: criar um tipo de futebol com características mais puras da história italiana, usando características do harpastum e do calcio fiorentino. Assim, o jornalista veterano de guerra criou a volata (“vôo” em português).

O esporte parecia uma mistura de futebol com handebol europeu (jogado em gramado, diferente do handebol de quadra). Cada time tinha oito jogadores, sendo um goleiro. Como no futebol, o objetivo era marcar gols, mas os jogadores de linha podiam pegar a bola com as mãos, desde que não a segurassem por mais de três segundos.

Com a propaganda intensiva do governo, a modalidade teve um rápido crescimento. Em poucos anos, já tinha 100 clubes filiados à liga nacional. No entanto, foi apenas uma moda passageira que jamais conseguiu se tornar uma alternativa viável ao futebol. Na verdade, a volata acabou prejudicando mais o rúgbi (que já era um esporte secundário) do que o futebol.

Sem consolidar sua modalidade diante do público, os fascistas abandonaram o apoio oficial à volata em 1933. O novo projeto era explorar politicamente o futebol “normal”, ainda mais porque a Copa do Mundo do ano seguinte seria na Itália e um título ajudaria muito a validar o regime diante da população. Em 1939, o campeonato de volata deixou de ser disputado e o esporte caiu no ostracismo. Como o governo fascista.

*

Depois da passagem por Coni e PNF, Turati gradualmente se afastou do fascismo. Em 1931, ele deixou o partido para assumir a editoria do La Stampa, principal jornal de Turim. Contrário a algumas medidas do governo, o jornalista acabou preso na ilha de Rodes (atual Grécia, mas possessão italiana na época). Voltou a seu país em 1938, abandonando a carreira política para advogar. Mesmo se manifestando contrário à entrada da Itália na Segunda Guerra Mundial, Turati foi julgado depois da guerra. Foi condenado em um primeiro momento, mas recebeu anistia. O criado da volata morreu em 1955, em Roma.

Ubiratan Leal

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O futebol segundo os australianos

terça-feira, junho 05, 2007

Acaba o conto de fadas na pequena Vecindário

A Segunda División espanhola não tem a organização e tradição da Championship League inglesa ou o calor de grandes torcidas como a Serie B italiana. Ainda assim, é um torneio profissional de nível técnico aceitável para uma Segundona. Por isso, muitos espanhóis acompanhavam com carinho a inusitada participação do Vecindario, clube de uma pequena cidade de cerca de 10 mil habitantes nas ilhas Canárias que jamais imaginaram ver seu time em nível tão alto.

A Unión Deportiva Vecindario foi fundada em 1961, com a fusão do San Rafael com o El Canário. Durante duas décadas, o clube blanquinegro vagou por divisões regionais amadoras das Ilhas Canárias. Nada anormal para um time despretensioso como tantos outros na região, ainda que o crescimento, divisão a divisão, fosse notável.

Isso ficou mais forte em 1988, quando o Vecindario venceu a Preferente e conquistou um lugar na Tercera División, que, na prática, é a quarta. Foram 12 temporadas neste nível, o que já colocaria os blanquinegros como um dos poucos clubes canários consolidados no cenário nacional. Até que, em 1999, o time subiu mais um nível e chegou à Segunda B, equivalente à Terceirona.

Depois de uma rápida queda para a quarta divisão, o Vecindario voltou à terceira sem perspectivas de ir além disso. Parecia ser o máximo que um clube com estádio para apenas 4,5 mil torcedores – cerca de 45% da população de sua cidade – conseguiria. O início da campanha na temporada 2005-06 confirmava isso, com o time fugindo das últimas posições.

A sorte mudou com a chegada do técnico Pacuco Rosales, que nasceu em Gran Canária (ilha onde está Vecindário) e já havia trabalhado no clube. A equipe ganhou novo ânimo e foi escalando aos poucos a classificação. Os blanquinegros começaram a surpreender e conquistaram uma vaga na repescagem para a promoção, superando clubes muito mais ricos, tradicionais e com mais torcedores como Rayo Vallecano, Leganés e Melilla.

O sorteio colocou o time canário diante do Cartagena. Os blanquinegros abriram 2 x 0 no jogo de ida, em Vecindario, mas sofreram o empate. Mesmo assim, reuniram forças para vencer no jogo de volta, fora de casa, por 1 x 0. Na decisão da vaga, venceram por 2 x 0 e perderam por 2 x 1 contra o Levante B, assegurando a inédita e surpreendente classificação para a Segundona espanhola. Curiosamente, na segunda divisão, o Vecindario encontrou Las Palmas e Tenerife, em uma participação significativa do futebol das Ilhas Canárias na competição.

O clube teve de se redimensionar. A diretoria não tinha muitos recursos para investir, mas teve de contratar reforços estrangeiros para evitar o vexame. Até então, a base invariavelmente era composta por jogadores locais. O estádio Municipal de Vecindario quase foi reformado, pois tem gramado sintético e precisava de aprovação dos outros clubes para ser homologado. Foi o primeiro estádio com esse tipo de piso na história da LFP (Liga de Fútbol Profesional, que organiza as duas primeiras divisões do futebol espanhol).

Mesmo assim, era difícil se manter, ainda mais com adversários como Murcia, Sporting Gijón, Cádiz, Las Palmas, Valladolid, Málaga e Salamanca. Os números mostram como a realidade do Vecindario era completamente diferente da dos concorrentes. A torcida apoiou bastante os blanquinegros e ganhou a fama de ser fiel. A média de público foi de 2.219 pagantes, ou seja, 50% de ocupação do estádio e 22% da população da cidade. Ainda assim, foi a pior média de toda a Segundona espanhola. Para se ter uma idéia, o vizinho Las Palmas, clube “grande” de Gran Canária, teve 12.401.

Em universos diferentes, era difícil imaginar que o Vecindario sobrevivesse. A equipe blanquinegra teve poucas alegrias, como as duas vitórias sobre o Tenerife em dérbis canários, e ficou quase sempre na última posição. Acabou rebaixada com quase um mês de antecedência. Sinal de como o Vecindario era um estranho na competição. Um clube quase amador que sentiu rapidamente o gostinho da glória profissional. E que, para a infelicidade de quem gosta de histórias alternativas e inusitadas, já voltou ao seu lugar.

Ubiratan Leal

segunda-feira, junho 04, 2007

Com condições de trabalho, o Corinthians cresce

O torcedor corintiano talvez nem se lembrasse mais que futebol é um esporte que pode ser jogado coletivamente. Mesmo o time campeão brasileiro em 2005 era um amontoado de individualidades, que podiam ou não resolver uma partida quando se destacavam. Pois esse início de Brasileirão 2007 mostra um Alvinegro diferente, em que os jogadores se distribuem em campo com naturalidade e não se desesperam após qualquer revés.

O trabalho de Paulo César Carpegiani ainda está começando e há tempo de sobra para tudo dar errado. Mas fica evidente como as coisas começam a caminhar no Parque São Jorge a partir do momento em que se dá condições de trabalho a um técnico disposto a montar um time honesto, sem pretensões surreais ou arrogância injustificada, para a disputa do Campeonato Brasileiro.

A base é econômica, mas mostra eficiência. Carpegiani iniciou seu trabalho por organizar a defesa. Em teoria, o Corinthians tem três zagueiros, com Zelão no meio, Betão na esquerda e Fábio Ferreira na direita. Os três praticamente não avançam (só em bolas paradas) e ainda têm a companhia de Édson (ou Pedro), que podem recuar da direita e formar uma linha de quatro defensores. Atrás deles, Felipe é um goleiro que, até agora, passa confiança.

No meio-campo, a marcação é feita pelos dois alas e Marcelo Mattos. Assim, fica bastante difícil passar pela barreira armada pelos corintianos. A solidez fica evidente pela forma como o futebol de Marcelo Mattos cresceu, com redução significativa do número de faltas motivadas por desespero diante da falta de recursos (traço típico da era Leão).

Esse sistema permite que Rosinei jogue um pouco mais ofensivamente, algo que só não é melhor aproveitado pela má fase do jogador. Os alas apóiam, mas Édson e Pedro são inconstantes e Marcelo Oliveira é habilidoso, bom marcador e corre o campo inteiro, mas passa mal. Assim, William fica como único jogador na articulação, algo claramente pouco recomendável.

Primeiro, não é correto jogar tanta responsabilidade em um atleta que não tem nem um ano como profissional. Além disso, o time ficaria dependente da inspiração do meia. Contra o Cruzeiro, William jogou muito bem e o Corinthians venceu com sobras. Contra o Santos, ele esteva pouco inspirado, prendeu demais a bola e o ataque corintiano não respirou.

No ataque, a arma é Everton Santos. Rápido e incansável, o atacante pode fazer as vezes de meia ofensivo e se movimenta bastante, abrindo espaço e preparando jogadas para Finazzi, centroavante contratado com a única função de servir de referência no ataque, finalizando qualquer jogada e completando um campeonato com mais de uma dezena de gols.

O time está ajeitado, mas serve principalmente para apagar o incêndio que havia no elenco do Corinthians. Taticamente organizado e com um ambiente mais leve desde a saída de Leão e de jogadores da MSI (só sobrou Marcelo Mattos), desempenhos pífios tendem a diminuir e a equipe mostrará um mínimo de consistência. Os jogadores mostram disposição comovente, algo que geralmente dá certo no Parque São Jorge. Neste caso, deve ser o suficiente para não confirmar a expectativa de ver o time lutando contra o rebaixamento.

No entanto, é preciso dizer que não há sobras. O ataque foi montado em cima das características dos jogadores, sem que se houvesse tempo para criar opções táticas. Por isso, tem sido pouco produtivo nesse início de campeonato. Como um todo, o time vai bem dentro de seu discreto projeto, mas falta muito para haver o brilhantismo necessário para grandes aspirações. Outro problema, certamente o maior, é saber por quanto tempo Carpegiani trabalhará com autonomia, sem dirigentes atrapalhando o que começa bem.

Como um todo, esse time lembra muito o de Tite em 2004, com garotos se entregando em campo em um esquema bem organizado e realista. Não por coincidência, aquele foi o último Corinthians em que um técnico competente pôde trabalhar sem tanta interferência de dirigentes. Sinal de que o Alvinegro sabe o que fazer. Mas nem sempre se dispõe a isso.

Ubiratan Leal

Imagem: Maurício de Souza / Santos

sexta-feira, junho 01, 2007

O Cruzeiro que diz “tchê”

Poucas cidades brasileiras são tão bipolarizadas futebolisticamente quanto Porto Alegre. A força de Grêmio e Internacional e o poder dessa rivalidade são tão fortes que há quase que um dever moral do torcedor portoalegrense ser tricolor ou colorado. No entanto, a capital gaúcha tem, sim, espaço para clubes pequenos. O mais tradicional deles, inclusive, renasce aos poucos motivado pela esperança de voltar a ser um fantasma para as potências locais. É o Cruzeiro.

Apesar do nome e das cores (azul e branco), o Cruzeiro gaúcho não é uma cópia do homônimo mineiro. Pelo contrário, pois a versão portoalegrense é mais antiga – pelo menos no uso do nome e cores – que a belohorizontina. Pena que tenha ficado esquecida por décadas e, hoje, esteja penando na Chave 5 da segunda fase da Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho.

Dizer que o Cruzeiro-RS já foi grande pode ser um certo exagero. Mas era um time extremamente respeitado em todo o Estado e não podia ser excluído da relação de candidatos a qualquer título municipal na primeira metade do século passado. Além disso, chegou a conquistar grandes resultados fora do Rio Grande, mostrando que era mais do que uma equipe de alcance regional.

O Estrelado foi fundado em 1913. Na época, não existia propriamente o Campeonato Gaúcho, apenas torneios regionais. Assim, a melhor referência era o desempenho no Campeonato de Porto Alegre. Nos primeiros anos, os cruzeiristas não conseguiam acompanhar Grêmio e Internacional, mas, aos poucos, cresciam.

O primeiro título citadino veio em 1918. O Cruzeiro fez 14 pontos, dois a mai que o Grêmio e quatro à frente do Internacional. Aquele foi o último ano sem que os campeões regionais do Rio Grande do Sul se unissem para decidir o melhor do Estado. Assim, o Estrelado não pôde disputar o posto de campeão gaúcho.

Isso só seria possível 11 anos depois. Em 1929, o Cruzeiro voltou a conquistar o título portoalegrense e foi para o Gauchão. Os adversários foram Riograndense de Santa Maria (campeão da serra), Ferro Carril Oeste de Uruguaiana (campeão da fronteira) e Guarany de Bagé (campeão do sul do Estado). Nas semifinais, os cruzeiristas venceram o Riograndense por 2 a 0 e foram para a final, onde superaram o Guarany por 1 a 0.
O time-base daquele Cruzeiro era Chico, Espir e Hugo; Totte, Emílio e Salatino; Ferreira, Torres, Nestor, Germano e Campão. Essa equipe colocou os cruzeiristas em igualdade com a Internacional, Americano (Porto Alegre), Brasil (Pelotas), Bagé e Guarany (Bagé), todos com um título gaúcho. Apenas o Grêmio estava à frente no ranking, com três conquistas.

É verdade que os títulos eram esporádicos. Nos demais anos, o Cruzeiro aparecia como um fantasma, um time que corria por fora na luta pelo vice-campeonato ou terceiro lugar. O cenário mudou um pouco em 1937. Flamengo e Fluminense convidaram Grêmio e Internacional a aderirem ao profissionalismo.

De fato, isso ocorreu, com Cruzeiro, São José e Força e Luz acompanhando os grandes. O problema é que a Amgea (Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos) estava ligada ao amadorismo, o que provocou uma cisão no futebol gaúcho e tirou os grandes temporariamente da disputa do campeonato estadual.

A paz voltou três anos depois, quando o Internacional montou uma grande equipe e ofuscou os esforços dos adversários locais. Foram 13 títulos portoalegrenses em 15 anos. É evidente que essa hegemonia teve efeitos mais devastadores nas equipes médias e pequenas. Ainda mais porque o campeonato se tornara metropolitano, recebendo equipes de cidades da Grande Porto Alegre. Naquele período, o Cruzeiro concentrou seus esforços na construção do estádio da Montanha.

Ainda assim, o Estrelado ainda pôde realizar a que muitos consideram sua maior façanha. Em 1953, os cruzeiristas se tornaram uma das primeiras equipes não-paulista ou carioca a excursionar pelo exterior. E com desempenho largamente satisfatório. Logo na primeira partida, um empate em 0 x 0 com o Real Madrid. No total, foram sete vitórias, cinco empates e três derrotas em 15 jogos.

A base daquele Cruzeiro era Deoli; Ruy e Valtão; Laerte, Léo e Xisto; Ferraz, Casquinha, Nardo, Huguinho e Tesourinha. Entre os reservas estava o atacante Hoffmeister, que depois se tornaria dirigente e, conhecido como Rubens Hoffmeister, presidiria a federação gaúcha.

O sucesso foi tão grande que o Cruzeiro foi convidado para nova excursão sete anos depois. O desempenho foi semelhante, com 11 vitórias, seis empates e sete derrotas, além do título do Torneio de Páscoa de Berlim.

No entanto, aqueles eram os últimos momentos de glória do Estrelado. Em 1965, o clube foi último colocado no Campeonato Gaúcho (já unificado) e caiu para a segunda divisão. O retorno ocorreu em 1968 debaixo de polêmica, com a expansão do campeonato por parte da FGF. Menos mal que os cruzeristas terminaram na terceira posição e fizeram valer a promoção.

Apequenado, o Cruzeiro começou a enfrentar séria crise financeira. Em 1970, vendeu o estádio da Montanha, onde foi construído o cemitério João XXIII. Três anos depois, ainda fortemente endividado, o clube pediu licença à federação, fechando o time profissional.

Aproveitando os jovens vindos das categorias de base (cuja atividade se mantivera), o Cruzeiro aceitou o convite da FGF para voltar ao profissionalismo em 1976. No ano seguinte, inaugurou seu novo estádio, o Estrelão. O clube, porém, ainda não estava preparado para retornar e construir uma nova casa e acabou fechando as portas em 1979.

O clube retornou na década de 1990. Desde então, perambula pelas divisões inferiores do futebol do Rio Grande do Sul. Muitos torcedores se mantiveram fiéis mesmo com os anos de inatividade, mas o fato é que o time – hoje chamado de Cruzeirinho – tem poucos seguidores (o mais conhecido é o escritor Moacyr Scliar). É um simpático clube que tenta se reestruturar para voltar à elite de seu Estado.

Pelo visto os cruzeiristas terão de esperar mais um ano pelo menos. Depois de uma bela campanha na primeira fase da Segundona gaúcha de 2007, o time não consegue acompanhar a caminhada de equipes como Bagé, Rio Grande, Porto Alegre (time mantido pela família de Ronaldinho) e Pelotas. Um presente nada parecido com o xará mineiro, que surgiu como Palestra Itália e virou Cruzeiro bem depois do Estrelado, mas é o clube lembrado imediatamente quando se fala em Cruzeiro e futebol.

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Veja os resultados da primeira excursão do Cruzeiro-RS à Europa: 0 x 0 Real Madrid, 0 x 4 Toulouse, 6 x 2 Lausanne, 0 x 0 Torino, 0 x 0 Lazio, 2 x 1 Maccabi Tel-Aviv-ISR, 1 x 0 Maccabi Petach-Tikva-ISR, 5 x 0 Hapoel Haifa-ISR, 0 x 0 Israel, 0 x 2 Besiktas, 1 x 2 Turquia, 2 x 5 Fenerbahçe, 3 x 1 Galatasaray, 4 x 2 Español e 2 x 0 Español.

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Veja os resultados da segunda excursão do Cruzeiro-RS à Europa: 0 x 2 Bulgária, 1 x 1 Dunav-BUL, 3 x 0 Kärnten-AUT, 0 x 2 Dynamo de Zagreb-IUG, 3 x 2 Rijeka-IUG, 1 x 0 Bayern de Hoff-RDA, 1 x 0 Vorwärts-RDA, 1 x 1 Dynamo de Berlim-RDA, 1 x 1 Hansa Rostock-RDA, 1 x 1 Alemannia Aachen-RFA, 2 x 4 Standard Liège-BEL, 0 x 3 Sevilla, 4 x 3 Figueres-ESP, 2 x 4 Español, 6 x 2 Atlétic Balears-ESP, 2 x 1 Limoges-FRA, 0 x 0 Anderlecht, 0 x 0 Tchecoslováquia, 1 x 2 Nitra-TCH, 2 x 0 Combinado de Helsingborg, 3 x 2 Dinamarca Olímpica, 2 x 0 Randers-DIN, 3 x 2 Venlo-HOL e 0 x 2 Osnabrück-RFA.


Ubiratan Leal

Imagens: Cruzeiro-RS (por Gabriel de Mello no Cruzeiro x Sapucaiense)