segunda-feira, junho 04, 2007

Com condições de trabalho, o Corinthians cresce

O torcedor corintiano talvez nem se lembrasse mais que futebol é um esporte que pode ser jogado coletivamente. Mesmo o time campeão brasileiro em 2005 era um amontoado de individualidades, que podiam ou não resolver uma partida quando se destacavam. Pois esse início de Brasileirão 2007 mostra um Alvinegro diferente, em que os jogadores se distribuem em campo com naturalidade e não se desesperam após qualquer revés.

O trabalho de Paulo César Carpegiani ainda está começando e há tempo de sobra para tudo dar errado. Mas fica evidente como as coisas começam a caminhar no Parque São Jorge a partir do momento em que se dá condições de trabalho a um técnico disposto a montar um time honesto, sem pretensões surreais ou arrogância injustificada, para a disputa do Campeonato Brasileiro.

A base é econômica, mas mostra eficiência. Carpegiani iniciou seu trabalho por organizar a defesa. Em teoria, o Corinthians tem três zagueiros, com Zelão no meio, Betão na esquerda e Fábio Ferreira na direita. Os três praticamente não avançam (só em bolas paradas) e ainda têm a companhia de Édson (ou Pedro), que podem recuar da direita e formar uma linha de quatro defensores. Atrás deles, Felipe é um goleiro que, até agora, passa confiança.

No meio-campo, a marcação é feita pelos dois alas e Marcelo Mattos. Assim, fica bastante difícil passar pela barreira armada pelos corintianos. A solidez fica evidente pela forma como o futebol de Marcelo Mattos cresceu, com redução significativa do número de faltas motivadas por desespero diante da falta de recursos (traço típico da era Leão).

Esse sistema permite que Rosinei jogue um pouco mais ofensivamente, algo que só não é melhor aproveitado pela má fase do jogador. Os alas apóiam, mas Édson e Pedro são inconstantes e Marcelo Oliveira é habilidoso, bom marcador e corre o campo inteiro, mas passa mal. Assim, William fica como único jogador na articulação, algo claramente pouco recomendável.

Primeiro, não é correto jogar tanta responsabilidade em um atleta que não tem nem um ano como profissional. Além disso, o time ficaria dependente da inspiração do meia. Contra o Cruzeiro, William jogou muito bem e o Corinthians venceu com sobras. Contra o Santos, ele esteva pouco inspirado, prendeu demais a bola e o ataque corintiano não respirou.

No ataque, a arma é Everton Santos. Rápido e incansável, o atacante pode fazer as vezes de meia ofensivo e se movimenta bastante, abrindo espaço e preparando jogadas para Finazzi, centroavante contratado com a única função de servir de referência no ataque, finalizando qualquer jogada e completando um campeonato com mais de uma dezena de gols.

O time está ajeitado, mas serve principalmente para apagar o incêndio que havia no elenco do Corinthians. Taticamente organizado e com um ambiente mais leve desde a saída de Leão e de jogadores da MSI (só sobrou Marcelo Mattos), desempenhos pífios tendem a diminuir e a equipe mostrará um mínimo de consistência. Os jogadores mostram disposição comovente, algo que geralmente dá certo no Parque São Jorge. Neste caso, deve ser o suficiente para não confirmar a expectativa de ver o time lutando contra o rebaixamento.

No entanto, é preciso dizer que não há sobras. O ataque foi montado em cima das características dos jogadores, sem que se houvesse tempo para criar opções táticas. Por isso, tem sido pouco produtivo nesse início de campeonato. Como um todo, o time vai bem dentro de seu discreto projeto, mas falta muito para haver o brilhantismo necessário para grandes aspirações. Outro problema, certamente o maior, é saber por quanto tempo Carpegiani trabalhará com autonomia, sem dirigentes atrapalhando o que começa bem.

Como um todo, esse time lembra muito o de Tite em 2004, com garotos se entregando em campo em um esquema bem organizado e realista. Não por coincidência, aquele foi o último Corinthians em que um técnico competente pôde trabalhar sem tanta interferência de dirigentes. Sinal de que o Alvinegro sabe o que fazer. Mas nem sempre se dispõe a isso.

Ubiratan Leal

Imagem: Maurício de Souza / Santos

Um comentário:

Anônimo disse...

Não acho que o Corinthians vá ser campeão brasileiro (tomara que eu queime a língüa !), mas creio que os pontos que o time está conquistando agora serão a diferença entre um fim de ano sofrido, lutando para não cair, e um fim de ano tranqüilo, ganhando, quem sabe, uma vaguinha na Sul-Americana - com muita sorte, uma na Libertadores.

E, depois de um tempão no banco de reservas, o Balipodinho voltou à carga. Espero que os problemas sejam resolvidos. Mas nós, fiéis leitores balipodeiros, estamos aqui, sempre alertas, caro Ubiratan !