quinta-feira, dezembro 01, 2005

Em período de crise, imprensa deve ser responsável

Por razões históricas e culturais, o brasileiro sempre foi arredio a autoridades, sobretudo as políticas ou governamentais. Claro isso vale para o futebol. O senso-comum sempre foi de que as entidades que “organizam” o esporte brasileiro e os árbitros (diretamente ligados às tais entidades) são corruptos. E era elementar que um escândalo como o de Edílson Pereira de Carvalho ia apenas validar esse pensamento. No entanto, “senso-comum” é para o torcedor em seu dia-a-dia. Em um momento como esse, a imprensa tem de ter um cuidado ainda maior com suas ações, pois é necessária responsabilidade para evitar um aumento da crise.

Isso não significa, claro, que os jornalistas devem fechar os olhos para a situação do futebol brasileiro. Pelo contrário. As investigações sempre são válidas e podem, se não provar, dar pistas pertinentes para o torcedor (e as autoridades, se for de interesse dessas) refletirem. Por exemplo, mais válido do que simplesmente bradar que Márcio Rezende de Freitas estava predisposto a prejudicar o Internacional contra o Corinthians (algo extremamente “chutado”, por mais grave que tenha sido – e foi – o erro dele no lance envolvendo Tinga e Fábio Costa) é estudar o histórico do árbitro para, a partir daí, descobrir a um padrão de comportamento ou de envolvimento pouco recomendável com as autoridades em momentos críticos. (obs.: o que foi feito por alguns veículos)

Acusar sem provas, além de não fazer parte dos procedimentos de um jornalismo correto (na verdade, não é correto para ninguém), é leviano e pode acalorar ainda mais a discussão. Nessas últimas semanas, o futebol brasileiro parece viver uma caça às bruxas. Não há mais erros ocasionais. Tudo é suspeito e merece comentários tendenciosos e perigosos como “não sei, não” ou “não duvido de nada agora”. Em muitos casos, até merece alguma suspeita e investigação. Mas, em outros, a atitude do comentarista é maldosa e visa apenas criar celeuma.

E o Balípodo não se refere apenas ao caso entre Corinthians e Internacional. Ano passado, alguns jornalistas, de tantas insinuações gratuitas, criaram entre os santistas uma teoria de que haveria uma grande conspiração orquestrada pelo dirigente atleticano Mário Celso Petraglia para levar o Brasileirão para a Água Verde. A base era apenas o alto número de pênaltis em favor dos rubro-negros curitibanos.

Outro exemplo da precipitação foi no caso da Ponte Preta. Quando os campineiros anunciaram que poderiam jogar contra o Corinthians com seu time reserva, logo se falou em mais uma ação da máfia que favoreceria o alvinegro paulistano. Pois, no dia seguinte, os pontepretanos conversaram com o Internacional e mudaram de idéia. Se houve maldade no caso, fica mais fácil acreditar em blefe da Ponte Preta para atrair os colorados do que em favorecimento deliberado ao Corinthians.

A crise é um chamariz para as insinuações e atitudes populistas por parte da imprensa. No entanto, o papel do jornalismo é investigar e informar, não especular. Em um momento em que os ânimos andam tão acirrados, isso se torna ainda mais importante.

Ubiratan Leal

Nenhum comentário: