quarta-feira, dezembro 07, 2005

Luxemburgo se expôs e, por isso, caiu

Estava claro que a manutenção de Vanderlei Luxemburgo no cargo de técnico do Real Madrid era uma situação provisória desde a derrota para o Barcelona. Apenas os mais ingênuos acreditariam que ainda era possível o brasileiro manter seu emprego por muito tempo. E nada mais emblemático para uma demissão anunciada do que ela se concretizar logo após uma vitória.

Parte da imprensa brasileira, com certo paternalismo, tentou isentar o técnico de culpa. Falou-se muito na política de contratações equivocada do clube, que o marketing é mais importante que o futebol, que falta homogeneidade ao elenco, que os números mostram que o Real de Luxemburgo não foi mal e que muitas estrelas juntas não conseguem jogar. Nisso, vai um pouco de mito, um pouco de verdade e muito senso-comum. Mas nada elimina o fato de que o técnico errou.

O principal problema de Luxemburgo foi atrair para si muita atenção para seu trabalho. Sem esconder o excesso de autoconfiança, o treinador estava seguro que seus métodos de trabalho revolucionariam o Real Madrid e fariam os merengues reencontrarem seu futebol.

Assim, mudou rotina de treinos, trouxe uma comissão técnica cheia de brasileiros e indicou a contratação de mais alguns jogadores conterrâneos. No entanto, o técnico esbarrou nos obstáculos citados no segundo parágrafo e, além disso, não tinha suficiente preparo para lidar com os reveses. Mais ou menos como ocorreu em suas passagens por Flamengo (em 1995) e Seleção Brasileira.

Luxemburgo se bastou com os pequenos sucessos e não viu os insucessos. O Real até tinha bons resultados no papel, mas a qualidade do jogo despencava. Assim, é falsa a idéia de que o Real foi melhor que o Barcelona em 2005 (considerando o ano solar) simplesmente porque somou mais pontos. O que importa é que, nos momentos decisivos, o Barça foi mais forte e ainda soube manter a beleza de seu futebol (algo fundamental para um time com elenco estrelar e diretoria tão assoberbada como os merengues). A queda no número de gols sofridos, mais do que uma melhora efetiva da defesa, mostra como o Real passou a protagonizar partidas amarradas pela própria falta de fluidez.

Pior, no verão europeu, quando pôde indicar reforços ao lado de Arrigo Sacchi, a comissão técnica indicou defensores medianos (Pablo García) ou que ainda precisam confirmar as expectativas (Sérgio Ramos) e dianteiros “galácticos” (Robinho e Júlio Baptista). Ou seja, o excesso de atacantes e a escassez de defensores se agravou. Nem a possível chegada de Cicinho melhora o cenário, pois o lateral são-paulino tem importância muito mais no apoio do que na marcação. Talvez fosse mais indicado trazer bons defensores e eficientes reservas para o ataque.

Além disso, por mais que os defensores sejam fracos, ainda era possível montar uma equipe extremamente ofensiva, que faria e tomaria vários gols. Seria melhor. Mas nem isso foi possível. Nesse segundo semestre, o Real se limitou aos cruzamentos de Beckham e à jogadas individuais de Ronaldo e Raúl.

Não é de hoje que o Real não demonstra em campo o motivo da badalação que o cerca. Porém, depois de adotar métodos brasileiros, com comissão técnica brasileira e com jogadores brasileiros, Luxemburgo atraiu a atenção para si (como sempre fez) e deu razão para os que consideraram o técnico culpado pela má fase madridista. Se tivesse adotado uma postura mais humilde e discreta, os resultados talvez não viessem da mesma forma, mas a culpa provavelmente recairia em outros personagens.

Ubiratan Leal

Nenhum comentário: