sexta-feira, dezembro 09, 2005

Mundial de Clubes 2005

O sonho da Fifa de realizar um torneio mundial de clubes é antigo. Porém, quando se tornou realidade, em 2000, enfrentou um sério problema de legitimidade: já existia uma outra competição que era reconhecida por apontar o melhor clube do planeta. Depois de alguns anos com esse plano na gaveta, a entidade decidiu fazer o óbvio e uniu-se aos organizadores do torneio já existente para recriar o Mundial de Clubes.

A vantagem do novo formato é que continua relativamente atraente par aos clubes europeus, pode-se dizer mundial por ter clubes de todos os continentes e mantém o espírito que legitimou a Copa Intercontinental. E, como tem um time brasileiro em sua primeira edição, ganhou grande destaque na imprensa nacional. Até porque o São Paulo fez questão de lembrar o torneio a cada instante, deixando todo o segundo semestre de lado para se preparar para o Mundial.

A estratégia são-paulina se justifica, mas pode ter sido um pouco exagerada. Em um mundo utópico, o ideal seria o Tricolor ganhar a Libertadores, ter duas semanas de relaxamento, voltar a ganhar ritmo logo depois para tentar lutar pelo título brasileiro e chegar ao Japão embalado. Mas, claro seria exigir demais e os são-paulinos sabiam disso.

O plano do São Paulo foi muito claro: dedicou-se ao Brasileirão o tempo suficiente para se estabilizar na região morta da tabela e empurrou o final com a barriga. Tudo para descansar e ir ao Japão com seu elenco em boas condições físicas e psicológicas. A atitude tem um mérito grande e pouco comum aos times brasileiros que foi deixar claro a todos (sobretudo aos jogadores) que havia um torneio como prioridade. O mais comum no Brasil é um time vender a idéia de que prioriza uma competição, mas, na prática, dedica-se igualmente em todas as partidas

O problema é que o São Paulo pode ter exagerado na dose. A equipe tricolor ficou tão alheia ao Campeonato Brasileiro que está há meses sem disputar uma partida importante. Além de perder o ritmo de jogos sob pressão, o time pode sentir a instabilidade comum em início de temporada e até perder a consciência de sua capacidade real. De qualquer maneira, o clube do Morumbi tem dois atacantes capazes de desequilibrar (mesmo não sendo gênios), como Amoroso e Grafite, esse último se tiver condições físicas, um zagueiro que sabe liderar toda a defesa (Lugano), um goleiro que faz a diferença em uma noite afortunada (Rogério Ceni) e um lateral-direito que pode ser o elemento que desbalanceia a marcação adversária pela facilidade com que corre para a linha de fundo ou fecha pelo meio para concluir (Cicinho).

No mais, os possíveis efeitos negativos ou positivos da estratégia são-paulina só poderão ser analisados após os jogos. Por hora, é possível dizer que o São Paulo está em igualdade de condições com o Liverpool. Os ingleses estão em uma fase melhor, mas a possibilidade de estar descansado e a certeza de estar mais dedicado ao torneio são vantagens tricolores.

Veja um resumo de todos os adversários dos são-paulinos na luta pelo título mundial.

Entre os possíveis adversários das semifinais, o Al Ahly é o que mais pode complicar a trajetória tricolor. Não que os egípcios sejam uma grande potência, mas o fato de estar invicto há 55 jogos deve ser respeitado. Por mais que se pense que não é tão difícil escapar ileso de partidas do Campeonato Egípcio e da Liga dos Campeões Africanos, é de se admirar que, em tantas partidas, o time não sofra nenhum deslize, não sofre as conseqüências de uma inevitável jornada infeliz. Mostra que a equipe tem solidez coletiva. Individualmente, o destaque é o meia-atacante Mohammed Barakat e o atacante Mohamed Aboutraika. Ter um técnico com experiência internacional como o português Manuel José também pode ajudar. Vale dizer que o Al Ahly é talvez o clube mais popular dessa edição do Mundial de Clubes. O maior clube africano do século XX (segundo a Fifa) tem cerca de 40 milhões de torcedores e, claro, é o mais popular do Egito.

O adversário dos egípcios na primeira fase será o Al-Ittihad, da Arábia Saudita. O campeão asiático não tem um retrospecto tão impressionante quanto o Al Ahly, mas têm mais talento. O organizador do meio-campo é o brasileiro Tcheco, que ainda deixa saudades em Curitiba mesmo depois de uma passagem infeliz pelo Santos. No ataque, a referência é o leonês (de Serra Leoa) Mohammed Kallon. O jogador pode não ter dado certo na Internazionale (apesar de não ter sido um fracasso total), mas tem talento suficiente para merecer atenção especial pela habilidade e velocidade. Outro jogador digno de atenção e Mohammed Noor, principal meia da seleção saudita que vai à Alemanha. Como Pedrinho e Lima (além de Marcão) não tiveram suas inscrições aceitas pela Fifa, é provável que os árabes tenham de se sustentar nesse trio.

O time com menos chance de cruzar com o tricolor é o Sydney. O clube, que tem como um dos sócios o ator Anthony LaPaglia (o Jack Malone da série “Without a Trace”), foi fundado em novembro de 2004, com o surgimento da A-League, a liga australiana de futebol profissional. No início do ano, a entidade organizou um mini-torneio para indicar o representante da terra dos coalas na Copa dos Campeões da Oceania e o vencedor foi o Sydney. A equipe tem como destaque os meias Corica, que teve passagem por Leicester e Wolverhampton, e Zdrilic. Ambos vestiam a camisa verde-amarela no último encontro entre os socceroos e a Seleção Brasileira, na vitória dos aussies por 1 x 0 na Copa das Confederações de 2001. Outro jogador que merece atenção é o veterano atacante trinitino Dwight Yorke, ex-Manchester United. Quem também será mencionado será o japonês Kazuyoshi Miura, o Kazu, contratado pelo clube australiano como forma de angariar a simpatia dos torcedores nipônicos, mas que não deve fazer muita coisa aos 38 anos.

Já o Saprissa poderia até ser considerado um adversário de respeito se não estivesse na chave do Liverpool. O clube tem como proprietário o empresário mexicano Jorge Vergara, dono também das Chivas Guadalajara e do Chivas USA. Com recursos financeiros razoáveis e fiel ao princípio de contar apenas com jogadores nativos, o Monstruo Morado (Monstro Roxo) é base da seleção da Costa Rica. Pode parecer pouco, mas os costarriquenhos sempre fizeram papéis dignos nas competições internacionais (por exemplo, só foram desclassificados pela Turquia em 2002 no saldo de gols). Além disso, uma equipe que passou por adversários estruturados e relativamente ricos como Pumas Unam, Monterrey e Kansas City Wizards merece algum crédito. Os jogadores mais importantes são o atacante Ronald Gómez (autor do segundo gol dos ticos contra o Brasil na Copa de 2002), o meia de criação Walter Centeno e o zagueiro Reynaldo Parks.

Porém, nem o mais crédulo dos costarriquenhos tiraria do Liverpool o favoritismo para a vaga na final. Os reds já seriam candidatos naturais por serem campeões europeus, mas o retrospecto na atual temporada mostra como o time do técnico Rafael Benítez cresceu. Após um início de campanha instável no Campeonato Inglês, o Liverpool encontrou sua melhor formação e o jogo começou a fluir. Gerrard é o centro de tudo. O meia marca, carrega a bola, faz a armação e ainda conclui com poderosos chutes de longa distância. Os meias espanhóis Luís García e Xabi Alonso e os defensores Hyppia, Carragher e Riise dão consistência ao time, que não sofre gols há 10 partidas. Apenas o ataque é menos confiável. Crouch, recém-contratado do Southampton, é fraco tecnicamente e vive uma fase pouco feliz. Cissé também não é um artilheiro prolífico. Nesse cenário, não dá para entender como Morientes está no banco e porque Benítez não quis Michael Owen de volta no início da temporada. E é nesse ataque pouco nocivo que pode estar o sucesso dos adversários, sobretudo o São Paulo.

Ubiratan Leal

2 comentários:

Daniel F. Silva disse...

Pra mim, o ideal seria que o Mundial de Clubes fosse realizado em agosto, com as competições continentais se encerrando, no máximo, em junho. Mas esse plano, no mínimo, vai se demorar muito para realizar.

Saúvo Carrapatoso disse...

Mesmo que o Liverpool não esteja tomando gol há tempos e já tenha alcançado a vice-liderança do Inglesão, eu acho que o Saprissa ganha. Os caras tão estafados da longa viagem, jogaram no sábado passado, têm menos de uma semana pra se adaptarem ao fuso horário...