sexta-feira, dezembro 02, 2005

Figuras - Schumacher

Se há uma posição na qual a seleção da Alemanha sempre esteve bem servida, esta foi o gol. E se o atual titular Oliver Kahn não é nenhum exemplo de fair play, suas defesas extraordinárias têm o poder de ofuscar seu pavio curto. Não é o caso de Harald Schumacher. Para a torcida do Köln (Colônia), ele será sempre lembrado como o jogador que mais vezes defendeu seu arco (foram 422 partidas, sendo 76 por Copas européias). Mas o resto do mundo da bola recordará Harald Schumacher mais por sua impulsividade e lances bruscos do que por suas qualidades técnicas.

Que o diga o atacante francês Patrick Battiston. Na semifinal da Copa do Mundo de 1982, franceses e alemães empatavam em 1x1 quando, numa saída maldosa, Schumacher pulou e atingiu Battiston na cabeça com o joelho e evitou o gol gaulês (foto). O francês saiu do campo de maca, desacordado, com três dentes perdidos. O alemão não levou sequer um amarelo - e ajudou sua equipe a chegar à final nos pênaltis, defendendo as cobranças de Six e Bossis.

Anos depois, numa atitude de notável cavalheirismo, Battiston não só desculpou o temperamental camisa 1 da nationalmannschaft como o convidou para seu casamento. Mesmo assim, Schumacher tornou-se uma figura tão detestada pelos franceses que, numa pesquisa feita pelo jornal francês Le Figaro após a Copa de 1982, sobre qual era o "homem mais odiado da França", Schumacher derrotou Adolf Hitler!!

O goleiro ainda jogou outra Copa, em 1986, no México. Ajudou a seleção alemã a chegar à final defendendo os penais de Quirarte e Sánchez contra os anfitriões nas quartas-de-final, mas sua espetacular atuação contra os franceses (sem porrada!) foi ofuscada por suas falhas clamorosas em dois dos três gols argentinos na final: no primeiro, saiu muito mal do gol e permitiu a cabeçada de Brown; no segundo, deixou o canto esquerdo descoberto na finalização de Valdano. Novamente, ficou com o vice mundial.

Se dentro do campo detinha um estilo truculento de jogar, fora dele "Toni" (muitas vezes citado como uma referência a Anton Schumacher, goleiro do Köln nos anos 60, apesar de o próprio Harald afirmar que o apelido Toni é uma homenagem a Toni Turek, arqueiro alemão na Copa de 1954) também se notabilizou por declarações polêmicas. Após "quase matar" Battiston na Copa espanhola, declarou que não saíra do gol com a intenção de machucar o francês. Na volta da delegação bi-vice-campeã mundial no México, afirmou, na lata: "Por minha culpa a Alemanha perdeu a Copa".

No ano seguinte, ao escrever "Anstoss", sua autobiografia, ele insinuou que 9 de cada 10 jogadores da Bundesliga usavam drogas. Para reforçar o mais que duvidoso argumento, chegou a ilustrar as declarações com gráficos fictícios relacionados ao uso de drogas.A reação do meio futebolístico alemão não tardou: o clima ficou insuportável para ele, que teve de abandonar a terra natal e encerrar a carreira no Fenerbahçe turco, onde atuou 33 vezes e conquistou o campeonato local em 1988. Mas não pôde cumprir a promessa feita de que jogaria a Copa do Mundo de 1990, após perder para a Argentina de Maradona a de 1986.

Diogo Terra

Um comentário:

Daniel F. Silva disse...

Pelo texto, percebe-se que esse Schumacher era uma espécie de Higuita ao cubo...