sexta-feira, dezembro 23, 2005

E se a MSI não existisse?

Se o São Paulo não tivesse conquistado o Mundial de Clubes, o principal assunto da imprensa esportiva brasileira nesse final de ano teria sido o título do Corinthians. Não apenas por se tratar de um dos clubes mais populares (e que dá maior audiência) do país, mas também pelas circunstâncias em que tudo ocorreu. Dos investimentos milionários ao favorecimento de Márcio Rezende de Freitas no Corinthians x Internacional, o fato de ter a MSI ao seu lado chamou a antipatia e desconfiança para os corintianos. Mas o que aconteceria ao Alvinegro se a empresa de “investimentos em mídia esportiva” nunca tivesse aparecido no Parque São Jorge?

Não seria muito difícil projetar o 2005 corintiano sem as libras (a empresa é inglesa, né?) de Kia Joorabchian. O cenário no final de 2004 era bastante claro e evidente. Sem muito dinheiro, o clube apostara em um grupo jovem que tinha como destaques isolados Fábio Costa, Ânderson, Fabinho e Gil. No banco, Tite conseguira unificar o grupo, criando um conjunto estável e com resultados relativamente satisfatórios para um elenco nada extravagante.

A tendência é que, após o quinto lugar no Brasileirão de 2004, a política ganhasse força dentro do Parque São Jorge e fosse mantida para o ano seguinte. Precisando de dinheiro, o clube não faria força para evitar a ida de Fabinho para o Japão. O mesmo vale para Ânderson, que despertara o interesse do Benfica e ficaria no Corinthians apenas no primeiro semestre.

De qualquer forma, a base seria mantida, com Marinho no lugar de Váldson na zaga e a chegada de Marcelo Mattos, único reforço mais significativo do clube no início do ano. Melhor opção na armação, Fábio Baiano seria mantido a pedido de Tite, por mais que os termos da renovação tenham desagradado à diretoria. No ataque, Alberto teria nova chance na falta de outro artilheiro de vocação. O time seria Fábio Costa; Marinho, Betão e Wendell; Édson, Marcelo Mattos, Rosinei, Fininho e Fábio Baiano; Alberto (Bobô) e Gil.

A campanha no Paulistão seria sonolenta. O São Paulo dispararia na liderança, acompanhado de longe por Santos, São Caetano e Santo André. Com um futebol pouco confiável, o Corinthians teria muitas dificuldades em furas as fechadas defesas das equipes do interior e não seria incisivo suficiente para decidir nos clássicos. Com uma coleção de placares apertados, o alvinegro terminaria em sexto lugar no Paulistão e teria como único consolo ter feito uma campanha melhor que o Palmeiras.

Na Copa do Brasil, o time passaria pelo Cianorte em dois jogos tecnicamente muito fracos (0 x 0 em Maringá e 2 x 0 para o Corinthians no Pacaembu). Na fase seguinte, a equipe superaria o Figueirense em duas outras partidas monótonas. A boa atuação de Cléber e Édson Bastos impediria qualquer insinuação do ataque corintiano. Com a defesa bem fechada, o alvinegro paulista também rechaçaria as ofensivas do alvinegro catarinense. E, após duplo 0 x 0, a disputa foi para os pênaltis. Com Fábio Costa em momento de sorte, o Corinthians venceria por 4 x 3 avançaria para as quartas-de-final.

Nessa fase, o Corinthians chegaria com excesso de confiança contra o Paulista. Porém, a equipe jundiaiense estaria embalada e surpreenderia os alvinegros. No Pacaembu, o clube paulistano contaria com uma pequena ajuda da arbitragem para segurar o 1 x 1. No Jaime Cintra, os comandados por Tite não conseguiriam segurar o embalo do Galo da Japi e perderiam por 1 x 3.

A campanha pouco empolgante no Estadual e a queda prematura na Copa do Brasil dariam início a uma crise no Parque São Jorge. Até porque São Paulo e Santos demonstrariam força na Libertadores, aumentando a pressão dos corintianos por um time melhor. O objetivo seria encontrar um zagueiro, um meia de armação, um lateral-esquerdo e um artilheiro (já que Alberto não se firmaria no time e ficaria na reserva de Bobô).

Com recursos limitados, a margem de manobra do Corinthians seria baixa. As saídas de Fabinho e Ânderson teriam ajudado a melhorar a situação do caixa alvinegro. No meio do ano, Gil, extremamente desmotivado, também deixaria o clube.

Empresários tentariam levar o atacante Vágner Love, do CSKA Moscou, ao Parque São Jorge. No entanto, a diretoria estaria ciente dos valores necessários para contratar o ex-palmeirense e contestaria qualquer boato de que o artilheiro da Série B de 2003 estaria chegando. O clube optou por um jogador muito mais barato: Finazzi, goleador do Paulistão pelo América de Rio Preto. Ao seu lado, Tite colocaria Jô, jovem de características (e talento para desperdiçar gols) mais ou menos parecido com Gil.

O principal reforço viria para a defesa. Depois de o Palmeiras demonstrar interesse no repatriamento de Gamarra, os corintianos evocariam a história do zagueiro no clube para atravessar as negociações e levar o paraguaio ao Parque São Jorge, o que acirraria ainda mais a rivalidade entre os clubes. Nas demais posições, Tite seria obrigado a improvisar ou antecipar a promoção de algum garoto das categorias de base.

No Brasileirão, o time aproveitaria a instabilidade de todas as equipes no início do torneio para se colocar no pelotão da frente (composto por mais da metade dos participantes, a bem da verdade). O Corinthians seria uma das equipes mais difíceis de ser superadas, no entanto, pecaria pela falta de objetividade de seu ataque e reuniria uma quantidade muito grande de empates.

No meio do primeiro turno, o time conseguiria uma seqüência de resultados positivos, incluindo um 1 x 0 sobre o Palmeiras e um empate em 1 x 1 com o Santos na Vila Belmiro, e passaria a brigar por uma vaga na Libertadores. No entanto, igualdades contra equipes mais fracas recolocariam os corintianos no grupo que lutariam pela Copa Sul-Americana. Na metade do campeonato, Corinthians e Paraná disputariam o título de melhor defesa do campeonato. O título estaria entre Internacional, Santos, Goiás e Fluminense.

O segundo turno começaria mal para os alvinegros. Derrotas para Juventude e São Paulo, além de empate no Pacaembu contra o Botafogo faria os mais exaltados falarem em fugir do rebaixamento. Em campo, o time já sentia os efeitos da instabilidade política do clube, uma vez que os dirigentes estariam mais preocupados com a eleição do início de 2006 do que com o futebol em si.

Precisando de bons resultados no final do ano para ter mais força política, a diretoria demitiria Tite, contratando para seu lugar Antônio Lopes. O objetivo, em teoria, era que o novo técnico fizesse no Parque São Jorge um trabalho semelhante ao realizado com o Atlético-PR no primeiro semestre.

A troca de comando não mudaria a trajetória corintiana no Brasileirão. O técnico daria ainda mais ênfase ao trabalho defensivo, mas a vocação de acumular vitórias por 1 x 0 se manteria até o final da competição. No decorrer do returno, a equipe ganharia posições devido à falta de consistência de Santos, Botafogo, Paraná e Cruzeiro. Sem praticamente ser notado durante o torneio, o Corinthians lutaria com o Palmeiras pela quinta posição.

Nas rodadas finais, o alviverde, comandado por Juninho Paulista e Marcinho, daria uma arrancada e conseguiria uma improvável vaga na Libertadores, tirando proveito da queda brutal do Fluminense na competição. O único interesse do Corinthians seria na última rodada. E, no caso de Gamarra, Betão (que evoluiu assustadoramente com a companhia do paraguaio), Rosinei e Fábio Costa, de assegurar um lugar entre os melhores do campeonato.

O Alvinegro iria a Goiânia enfrentar o Goiás. Vice-líder do campeonato, o alviverde seria a única equipe que acompanharia o ritmo do Internacional na disputa pelo título. Na última rodada, os goianos precisariam de uma vitória sobre os paulistas e de um tropeço do colorado contra o desesperado Coritiba no Paraná.

Na semana que antecederia a decisão, falaria-se muito de uma suposta “mala preta” do Internacional para que o Corinthians dificultasse o jogo contra o Goiás. Os corintianos se diriam profissionais e prometeriam atuar com determinação, por mais que não tivessem mais interesse na competição (a vaga na Sul-Americana já seria uma certeza).

No primeiro minuto da última rodada, o Coritiba faria 1 x 0 no Internacional e colocaria o Goiás a uma vitória do inédito título. No entanto, essa possibilidade deixaria o time goiano ainda mais ansioso e desesperado. Com uma defesa sólida e tranqüila, o Corinthians anularia Rodrigo Tabata e não daria espaço para o apoio dos laterais Jadílson e Paulo Baier.

Sem ter a capacidade de concentração para buscar alternativas, o Goiás partiria para ataques desesperados, com cruzamentos da intermediária e precipitados chutes de fora da área. Seguro, Fábio Costa manteria o 0 x 0 para agonia dos torcedores goianos que lotaram o Serra Dourada.

Aos 30 minutos do segundo tempo, após uma desatenção do meio-campo alviverde, Rosinei puxaria um contra-ataque, lançando para Jô na esquerda. O atacante aproveitaria o espaço aberto por Paulo Baier para avançar e cruzar para Finazzi, livre, tocar na saída de Harley.

O gol corintiano acabaria com a partida na prática. Arrasados psicologicamente, os goianos ficariam sem ação nos 15 minutos finais. A vitória do Alvinegro daria o título ao Internacional, que conquistaria seu primeiro Brasileirão desde 1979 mesmo com a derrota para o rebaixado Coritiba. Boa parte da imprensa faria menção à honestidade corintiana de, mesmo sem interesse no jogo, atuar com determinação na última rodada.

E, se em São Paulo só se falaria na conquista do Mundial por parte do Tricolor paulista, o Rio Grande do Sul celebraria os “heróicos” e inusitados títulos de Internacional, na Série A, e Grêmio, na B.

Ubiratan Leal

Imagens: Terra

Obs.: Esse “artigo” é uma obra de ficção e, portanto, não deve ser levado a sério. Nenhuma das pessoas, empresas, entidades ou associações citadas no texto foi efetivamente entrevistada ou consultada. Ah, e como ninguém aqui tem talento para ler mãos, i-ching, tarô, búzios, mapa astral ou bola de cristal, qualquer semelhança com a vida real foi uma grande coincidência

3 comentários:

Anônimo disse...

Com Tite e Fábaiano no Corinthians em 2005, talvez o 2006 do meu Atlético Mineiro fosse um pouco menos sombrio..

Saúvo Carrapatoso disse...

Aproveitando que 2006 é ano de Copa do Mundo, bem que se poderia publicar edições do "E Se" com os seguintes temas:

- E se o Brasil tivesse ganho a Copa do Mundo de 1950?
- E se a Hungria tivesse ganho a de 1954?
- E se Pelé não tivesse se contundido em 1962?
- E se o Brasil tivesse perdido em 1970?
- E se a Holanda tivesse ganho em 1974?
- E se a Argentina tivesse perdido em 1978?
- E se o Brasil tivesse eliminado a Itália em 1982?
- E se o Brasil tivesse perdido nos pênaltis em 1994?

Obrigado pela atenção.

André Monnerat disse...

Brasil perder nos pênaltis em 1994 é um "e se" interessante.

O Romário, por exemplo, teria hoje fama de amarelar em finais, pelo gol feito que perdeu no tempo normal.

E o Dunga? Onde estaria?