
Primeiro, os méritos corintianos. Em um torneio de pontos corridos, dá para se dizer que ganhou o melhor. O Corinthians não tinha um conjunto tão bom quanto o Inter ou jogou tão bonito quanto o Fluminense no meio do campeonato. Além disso, esbanjou instabilidade. Ainda assim, o Alvinegro fez mais pontos que os demais (depois o texto discute as anulações) e isso não foi gratuito.
O que tornou o Corinthians o melhor time (com as anulações) é o fato de ter, com muito dinheiro, montado um elenco muito melhor que os demais. E, se os talentos corintianos não mostraram todo seu futebol pelos problemas táticos e de ambiente interno, foi o suficiente para decidir várias partidas complicadas e dar esses pontos a mais. Os paulistas não foram os melhores em todos os quesitos, mas o item em que eram superiores bastou para sobrepujar os demais.
Além disso, é relativamente legítimo dizer que o Corinthians não ganhou nenhum ponto no tribunal. No máximo, ganhou uma nova oportunidade de disputá-los, mas os quatro pontos extras foram conquistados com uma vitória sobre o Santos e um empate com o São Paulo. E, mesmo sem esses pontos, talvez o Alvinegro paulistano conquistasse o título, pois estaria mais concentrado nas partidas decisivas e não perderia pontos tolos. Até porque, no meio do returno, o Corinthians conseguiu abrir uma confortável vantagem (descontando os pontos das anulações) diante dos demais.
Aliás, pensar nos jogos anulados como quatro pontos a mais ou a menos é simplista. Cada momento teve repercussões psicológicas impossíveis de se medir, e tanto podem ter prejudicado quanto ajudado cada clube nesse ponto de vista. Por isso, é mais correto assumir a pontuação final, pois representa o resultado de como os clubes foram se adaptando à nova realidade da tabela.
Por todos esses motivos, o título do Corinthians foi justo. No entanto, é incorreto ignorar vários aspectos que deixam mais chocha a comemoração corintiana. Falar em título manchado é exagero, até porque a anulação ou não dos jogos é uma questão de interpretação legal e o Ministério Público recomendou essa medida. Porém, a forma arbitrária como o STJD tomou sua decisão deixa um desconforto em todos (além de motivar, com alguma razão, ações judiciais que, no mínimo, exigem atitudes mais transparentes do tribunal desportivo).

Se a isso for somado o fato de que, com recursos financeiros muito mais limitados, o colorado montou um time mais homogêneo, tecnicamente não muito inferior e coletivamente muito mais sólido, ficam vários “senões” girando em torno do título corintiano. Será que, simplesmente por ter o time mais rico, alguém é realmente o melhor? Nesse contexto, o fato de conquistar o título com derrota é algo menor, pois isso é comum em países que tradicionalmente adotam torneio em pontos corridos e já aconteceu bastante no Brasil, na época em que os Estaduais adotavam essa fórmula de disputa.
De qualquer forma, a conquista corintiana – que até pode ser justa e legítima (isso o tribunal resolve) – ficou apagada. Os torcedores têm todo o direito de comemorar (como os do Internacional terão se a Justiça anular a anulação dos jogos), se apegando aos méritos de seu time para deixar de lado as confusões desse campeonato emocionante e que consolidou os pontos corridos, mas que provou como as instituições do futebol não sabem lidar com os problemas causados por um único árbitro.
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A derrota para o Coritiba teve um efeito gigantesco na causa do Internacional. Tecnicamente, o time até fez a melhor campanha se forem desconsiderados os jogos refeitos. Porém, o revés abalou moralmente o colorado na busca pelo “título moral”. Meio na linha “se vocês fossem tão bons e mereciam tanto o título, como puderam perder de um time rebaixado na partida decisiva?”.
Ubiratan Leal
Um comentário:
Mílton, como disse, essa coisa do último jogo contra o Coritiba foi apenas questãod e ter ou não moral em uma discussão. Tecnicamente não muda nada. E os corintianos sempre poderão dizer (hipocritamente) que eles podiam perder para o Goiás, o Inter, não.
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