quarta-feira, janeiro 04, 2006

E se Viola tivesse feito o gol do tetra?

A detenção por porte de arma ilegal no dia de seu aniversário recolocou Viola no noticiário. E, cada vez mais, o atacante parece que deixará como última impressão um fim de carreira melancólico. No entanto, muita coisa poderia ser diferente se, em 1994, naqueles 15 minutos do segundo tempo da prorrogação contra a Itália na final da Copa, Viola tivesse feito o gol do título brasileiro. Como seria?

Tudo começaria quando Carlos Alberto Parreira decidiu colocar o descansado Viola no lugar do meia Zinho. Nesse momento, o Brasil ficava com três atacantes (já contava com Bebeto e Romário) e tentaria se aproveitar do cansaço da defesa italiana para decidir qual seria a primeira seleção com quatro Copas do Mundo.

O momento de mudança poderia ser quando Viola pegou a bola pela esquerda e tentou se infiltrar na zaga azzurra. Ele driblou três italianos, mas passou para Romário, que foi travado por Baresi no momento de concluir. Se tivesse sido um pouco mais egoísta e tentado o chute, talvez o centroavante do Corinthians fizesse 1 x 0 para o Brasil.

A partir daí, a Itália tentaria um empate desesperado. Sem força física para pressionar, os italianos apenas cercariam a área brasileira, tentando cruzamentos estéreis e chutes inglórios de fora da área. O jogo terminaria em 1 x 0 e o Brasil comemoraria o quarto título mundial.

Viola ficaria marcado como o responsável por decidir. Romário seria reconhecido como o grande craque daquele time, mas o centroavante do Corinthians atrairia para si uma aura quase mítica, como se ele fosse o predestinado para acabar com os 24 anos de estiagem de títulos do Brasil em Copas. Quase como um Basílio “Pé-de-Anjo” em nível nacional.

A repentina notoriedade teria reflexos imediatos na carreira do atacante. Viola seria procurado por grandes clubes europeus, e não apenas pelo Valencia, que na época era uma equipe pouco mais que mediana no cenário espanhol. Clubes como Roma, La Coruña, Bayer Leverkusen e Parma brigariam pelo passe (ainda existia passe, lembram?) do jogador.

O Corinthians promoveria uma espécie de leilão por Viola, inflacionando o preço do “homem do tetra”. O atacante seria vendido ao Bayer Leverkusen por US$ 7 milhões para fazer dupla com Kirsten, obrigando Paulo Sérgio a ser deslocado par ao meio-campo.

Viola chegaria à Alemanha na temporada 1995-96 como a grande contratação da temporada para o time das aspirinas. Com bom jogo de corpo, controle de bola aguçado, capacidade de cavar espaço nas áreas adversárias e pouca velocidade, o brasileiro teria uma boa adaptação ao futebol alemão. O Leverkusen teria um bom início de campeonato e Viola marcaria 10 gols apenas no primeiro turno.

No entanto, o time cairia de rendimento no segundo turno. Pior, com a chegada do inverno e a desmotivação devido à queda do Leverkusen, Viola daria entrevistas alegando que não se adaptou à Alemanha. Em um país com muita carne de porco, batata e cerveja, a culinária certamente não seria o bode expiatório escolhido pelo jogador. Talvez a frieza dos germânicos no relacionamento nas concentrações e nos vestiários.

Com um bom mercado na Europa, o atacante teria conseguido uma transferência à Lazio, na época turbinada com os bilhões de liras da família Cragnotti. Os celestes de Roma já haveriam sondado o jogador no rescaldo da Copa dos Estados Unidos, até porque a imagem de Viola ficaria marcada entre os italianos como a de Paolo Rossi ainda é para o Brasil. A esperança é que, em um país menos frio e com muita pizza e espaguete, a adaptação do brasileiro seria mais viável.

A direção da Lazio investira alto para montar uma equipe que pudesse levar o título à capital da Itália depois de 13 anos. Com o técnico ofensivista Zdenek Zeman, adepto incondicional do 4-3-3, o time romano precisaria de um centroavante fixo. O time-base da Lazio seria um dos mais respeitados da Série A: Marchegiani; Negro, Favalli, Nesta e Chamot; Fuser, Rambaudi e Nedved; Casiraghi, Viola e Signori.

Canhoto, Viola se aproximaria de Signori e Nedved na faixa esquerda do ataque laziale. No entanto, a velocidade de movimentação e de pensamento dos dois jogadores destoaria e o brasileiro teria dificuldade de encontrar um lugar no time. Antes do final do primeiro turno, Viola perderia a vaga de titular para Protti e encerraria a temporada com apenas quatro gols.

Na temporada 1997-98, o atacante brasileiro ainda tinha esperança de ser convocado para a seleção brasileira que disputaria o Mundial da França. Até porque o crédito que acumulara com o gol do título em 1994 era grande e havia lhe valido convocações constantes por Zagallo até a meados de 1996, quando Ronaldo, reserva de Viola na Copa dos Estados Unidos, explodira no Barcelona.

Com o comando de Sven-Goran Eriksson, a Lazio voltaria a alinhar com dois atacantes, em um 4-4-2 tradicional. Com Boksic, Casiraghi e Signori no elenco, Viola teve oportunidades apenas em jogos da Copa da Itália e como substituto em partidas pouco importantes. Sem perspectiva forçou sua volta ao futebol brasileiro no meio da temporada, seduzido por uma proposta do Palmeiras, que com a Parmalat, era um dos poucos clubes que poderiam bancar o salário do jogador que dera o tetra ao Brasil.

O atacante chegaria no início de 1998 para a disputa do Paulistão e da Copa do Brasil. Ao lado de Luis Felipe Scolari, o atacante seria a grande contratação do início da temporada alviverde. O técnico gaúcho declarara preferência por Oséas, mas reconhecia o valor histórico de Viola e aceitara o desafio de disciplinar o jogador.

O jogador se encaixou perfeitamente no esquema de Felipão. Ao lado de Paulo Nunes, o atacante compôs uma dupla de ataque harmoniosa (e encrenqueira). Com um time que já contava com Velloso, Cléber, Roque Júnior, Alex e Zinho, o Alviverde ganharia corpo durante o primeiro semestre e conquistou a Copa do Brasil, com um gol de Viola no último minuto contra o Cruzeiro no Morumbi.

Esse desempenho convenceria Zagallo a ver com mais carinho o nome de Viola, até porque o técnico é simpatizante de jogadores que considera “predestinados”. Viola não foi relacionado entre os 22 que foram à França, mas com a contusão de Romário, uma vaga no ataque estava aberta. Essa aura de decisivo que ainda giraria em torno do atacante palmeirense seria determinante para sua convocação. E o volante Émerson veria a Copa pela televisão.

No Mundial, Viola não entraria em campo uma vez sequer. Ronaldo estaria em grande fase e Bebeto tinha simpatia incompreensível de Zagallo. Além disso, o reserva imediato para o ataque seria Edmundo.

De volta ao Palmeiras para a disputa do Brasileirão, Viola comandaria o ataque do time e conseguiria a artilharia do torneio. Ainda assim, o título ficaria com o Corinthians. Em 1999, o atacante ajudaria o Alviverde a conquistar o título de sua primeira Libertadores fazendo, inclusive, um gol na final contra o Deportivo Cáli.

Viola seria visto como amuleto na disputa do Mundial contra o Manchester United. Afinal, ele já saberia como é decidir uma final de um torneio internacional. No entanto, o jogador não conseguiria soltar seu jogo e não evitaria a derrota palmeirense para os ingleses por 1 x 0.

Com a iminente saída da Parmalat, a diretoria palmeirense começaria a se desfazer de seus principais jogadores. Viola seria negociado com o Vasco, onde se juntaria a Romário no “ataque tetracampeão”. Em São Januário, o atacante passaria por uma boa fase e conquistaria seu primeiro título em um Campeonato Brasileiro (na verdade, seria a Copa João Havelange).

Em 2001, o atacante seria contratado pelo Santos, que buscava desesperadamente um título depois de 17 anos de fila. No entanto, Viola não conseguiria desenvolver seu futebol na Vila Belmiro e, pior, veria um aumento nas crises provocadas pelo seu mau comportamento fora de campo. A torcida santista, impaciente com a falta de títulos, o acusaria de viver apenas da fama daquele gol contra a Itália e que o Santos não poderia contar com jogadores acomodados se quisesse crescer novamente.

Ainda assim, Viola tinha um nome forte no exterior. Acertou com o Gaziantepspor, da Turquia, por duas temporadas. Ganharia bons salários, até porque seria usado como símbolo de uma “nova era de grandeza” do clube turco, um slogan populista criado pelo dirigente local.

Sumido do futebol brasileiro e com fama de não ter conseguido gerenciar o próprio sucesso, Viola perdeu espaço nos principais clubes brasileiros. Voltaria para defender o Figueirense, onde, ao lado de Cléber e Evair, formaria a base experiente que ajudaria o jovem time catarinense no Brasileirão.

Depois de duas temporadas em Florianópolis, o jogador não renovaria seu contrato e estaria à procura de um clube, de preferência no futebol paulista. Até que, no reveillon de 2005 para 2006, foi acusado por sua mulher de carregar uma arma sem a licença necessária. Ficaria dois dias detido.

*

Agradecimento ao leitor Leonardo Bertozzi pela sugestão do tema.

Ubiratan Leal

Imagem: Revelação Online (Brasil 1994) e Palmeiras site não-oficial (Viola no Palmeiras)

9 comentários:

Anônimo disse...

ahahahahah

ficou muito bom :))

Anônimo disse...

Se isso tivesse ocorrido, mesmo o Palmeiras tendo sido bicampeão paulista (antes da Copa) e brasileiro (depois) naquele ano, cada vez que um ousasse falar de futebol, um corintiano ia dizer que se não fosse o Viola o Brasil ainda estaria na fila...

Anônimo disse...

Muito boa a simulação com o Viola. Mas quem eu acho capaz e ter feito esse gol mesmo era o Ronaldo. Até hoje não entendo porque o Parreira não teve coragem de colocá-lo em campo em nenhum jogo da Copa de 94.

O Felipão, por exemplo, não cozinhou o Kaká em 2002, ao contrário, sempre que pôde o colocou em campo e ele fez até gol (se não me engano no 3º jogo). É a percepção de que se trata de um craque, ainda que em formação, mais um craque que merece ser testado em grandes momentos.

Anônimo disse...

Bira, eu e o Jones concluímos que vc é doente.

Mas, td bem. Sabe o que é pior?
Vc faz esses textos com proximidade total do real!!

Tipo, vc poderia deixar o Viola como herói de novo em 98, com o peripaque do Ronaldo. Mas não. O Brasil perdeu do mesmo jeito e ele não jogou!

Haha, que doença!

Abraço.

Daniel F. Silva disse...

Não, o Kaká não fez gol contra a Costa Rica (foram dois do Ronaldo, um do Edmílson - aliás, um golaço - um do Rivaldo e um do Júnior). Falando em Ronaldo, não seria má idéia publicar um "E Se..." com a seguinte pergunta: "E se Ronaldo não tivesse tido uma convulsão antes da final da Copa de 98?"...

Anônimo disse...

Ubiratan,

Que tal um "E se... Van Basten tivesse jogado a Copa de 94?".

Levando em conta que ele não teria aqueles problemas no tornozelo e estivesse em plena forma pra jogar em 94, será que o Brasil passaria?

Anônimo disse...

Essa do van Basten é boa!
Escuta, não foi do Viola o chute que o Pagliucca ia encaixar, deixou escapar, bateu na trav e voltou na mão dele na final? Que ele até da beijinho na trave?
Fica a dúvida!

Ubiratan Leal disse...

Napoleão, demorou para descobrir que sou doente...

Daniel, para ser honesto, bater novamente na tecla da convulsão do Ronaldo não me parece insólito o suficiente para dar mais uma versão. Até porque, para mim, a França era mais time mesmo. No máximo, o placar seria mais apertado

Diógenes, está anotado.

Emanuel, quem chutou aquela bola foi o Mauro Silva, ainda no tempo normal.

Saúvo Carrapatoso disse...

Aproveitando que 2006 é ano de Copa do Mundo, bem que se poderia publicar edições do "E Se" com os seguintes temas:

- E se o Brasil tivesse ganho a Copa do Mundo de 1950?
- E se a Hungria tivesse ganho a de 1954?
- E se Pelé não tivesse se contundido em 1962?
- E se o Brasil tivesse perdido em 1970?
- E se a Holanda tivesse ganho em 1974?
- E se a Argentina tivesse perdido em 1978?
- E se o Brasil tivesse eliminado a Itália em 1982?
- E se o Brasil tivesse perdido nos pênaltis em 1994?

Obrigado pela atenção.