segunda-feira, janeiro 16, 2006

Por que a arbitragem continua ruim?

Depois do escândalo envolvendo Edílson Pereira de Caravalho e do caso do “Bruxo” do Paraná, virou moda nas comissões de arbitragem do Brasil anunciar medidas para melhorar o nível das arbitragens. A que mais fez isso foi a paulista porque, afinal, o epicentro da máfia do Gibão era São Paulo. No entanto, logo na primeira rodada do campeonato bandeirante, deixou-se de dar um gol legal ao Corinthians, de marcar um pênalti para o Palmeiras, de anular um gol ilegal do mesmo Palmeiras e de dar um pênalti para o Santos. Isso só para falar nos jogos dos times grandes (o São Paulo teve sua estréia adiada). Por que os juízes continuam errando tanto?

A resposta básica é que nada de prático mudou. As medidas anunciadas têm sempre a ver com “punição exemplar aos que errarem”, “cursos de reciclagem”, “idoneidade pessoal” ou “pré-temporada específica”. Isso tudo é importante e reduz (mesmo que pouco) erros de arbitragem por desonestidade (vender o resultado) e desconhecimento da regra. No entanto, ainda está longe de atingir a origem da maior parte dos problemas de apito.

Muitas vezes, o árbitro não erra por desconhecimento da regra ou por falta de punição, mas por intranqüilidade e falta de independência para trabalhar. O sistema não pode estar vinculado a uma estrutura de federação, em que favores políticos dão o tom em qualquer conversa. O juiz não pode ouvir, antes de um jogo, que “o presidente do time X observará com muita atenção sua atuação, viu?”.

A estrutura atual tem base em favores e critérios pouco definidos, mesmo para as punições. Assim, um árbitro sabe que tem de pensar em outras coisas além dos lances da partida quando apita. Um exemplo foi a final do Mundial de Clubes. No Brasil, um juiz que anula (mesmo que corretamente, como foi o caso) três gols de um time que perde um jogo decisivo por 1 x 0 provavelmente terá problemas. Porque a federação para a qual ele dá satisfação não dará suporte às suas decisões. Prefere ouvir as reclamações dos dirigentes do clube perdedor, que dirão que um juiz que anula três gols de um time no mesmo jogo certamente estaria mal intencionado.

Assim, as comissões de arbitragem acabam funcionando sob mecanismos intangíveis. Muitos apitadores preferem, assim, conduzir a partida pelo que considerar mais “adequado”, buscando apenas passar incólume (famosa “lei da compensação”) ou contentar o lado politicamente mais influente (jogo de bastidores que se reflete no constante favorecimento aos grandes clubes sobre os pequenos) ao invés de marcar o que ele interpretar como correto pelas regras. Mesmo que seja para errar, ele tem de ter consciência que quem for analisar sua atuação o fará com independência e também priorizará as regras e a situação do jogo e não a conveniência política.

Claro que pouco se faz para mudar essa relação porque nessa influência sobre os árbitros mora boa parte do jogo de poder no futebol. E também porque muitos árbitros preferem que isso se mantenha para poderem trabalhar nesse contexto. Menos arriscado para quem já aprendeu a navegar nesse mar revolto.

*

Essa regra vale para a arbitragem mundial. Em uma Copa do Mundo, por exemplo, o juiz nem tem de dar muita satisfação às equipes que ele pode prejudicar. Mas terá de dar satisfação à Fifa... Difícil saber o que é pior.

Ubiratan Leal

3 comentários:

Anônimo disse...

Trombeta do Apocalipese:
Corinthians goleou... sem Tevez!

Saúvo Carrapatoso disse...

E a "internacionalização" da arbitragem (com árbitros de países sem nenhuma tradição no futebol) visa apenas a manter o atual grupo no poder da FIFA, com mais votos para a presidência da entidade.

Anônimo disse...

É verdade, Saúvo. E se não for, como explicar a designação, pelo Ricardo Teixeira, de um árbitro jamaicano para apitar Brasil x Bélgica na última Copa? O Wilmots fez um gol legalíssimo de cabeça, a zaga do Brasil nem reclamou... E o juiz (que se disse fã ardoroso do futebol brasileiro) anulou o gol. A partida estava equilibrada, e o Brasil ainda por cima contou com a sorte no primeiro gol, o do Rivaldo, quando a bola desviou num zagueiro.