terça-feira, janeiro 31, 2006

Figuras - Hugo Gatti

O estereótipo do goleiro sul-americano, aos olhos do torcedor brasileiro, sempre foi o de um sujeito, no mínimo, excêntrico: cabelos compridos desgrenhados, uniforme chamativo, constantes saídas da grande área, defesas incríveis alternadas com frangos humilhantes, declarações estapafúrdias à imprensa... Pode-se citar inúmeros nomes que sigam essa tendência, como os colombianos Higuita e Henao e o uruguaio Ortiz (de passagem pelo Atlético-MG). Mas há de se creditar na conta de Hugo Orlando Gatti grande parte dessa imagem, ora negativa, ora positiva, dependendo das conveniências.

Nascido em 19 de agosto de 1944, na cidadezinha de Carlos Tejedor (província de Buenos Aires), Gatti estreou na Primera argentina defendendo as cores do clube que o revelou: teve uma atuação razoável na vitória por 2 x 0 do Gimnasia y Esgrima de La Plata sobre o Atlanta. Fez uma carreira notável na equipe tripera platense e chegou a jogar no Racing e no River Plate - mas sua fama foi consolidada no arco do Boca Juniors, clube que passou a defender a partir de 1976.

Pelo time de La Bombonera, Gatti conheceu tanto o sucesso quanto o fracasso. Foi o herói da primeira Libertadores conquistada pelos xeneizes, em 1977, defendendo o pênalti do cruzeirense Vanderlei na decisão por pênaltis pelo terceiro jogo da final, em Montevidéu. Também era ele quem ocupava o arco auriazul quando o Boca sofreu a pior derrota de sua história como mandante: 0 x 6 para o inexpressivo San Martín de Tucumán, em 1988. Ao todo, foram 381 partidas pela equipe mais popular da Argentina (é o segundo jogador com mais atuações pelo Boca, atrás apenas do zagueiro e xerife Roberto Mouzo, com 398 jogos).

Personagem de inúmeras histórias, certa vez admitiu que, num amistoso da seleção argentina contra a União Soviética, em Moscou levou para trás do arco uma pequena garrafa de vodca! Em outra ocasião, atuando pelo Boca Juniors, driblou três atacantes do Estudiantes e deu um passe longo para o atacante Perotti marcar o gol da vitória boquense sobre os pinchas, pelo Metropolitano de 1981 (com Maradona no time). Pelo Metropolitano 1964, ainda defendendo o Gimnasia platense, enfrentava o Boca quando foi marcada uma falta para o time de La Bombonera. Paulo Valentim - ex-Botafogo e maior artilheiro xeneize nos superclásicos contra o River, com 10 gols - cobrou com a força habitual. Gatti, surpreendentemente, abriu as pernas e deixou a bola passar. Respondeu às óbvias reclamações dos companheiros com um argumento insólito: quem se enganou havia sido o juiz, por cobrar tiro livre direto e não indireto!

Encerrou a carreira no Boca Juniors, após uma derrota por 0x1 para o Deportivo Armenio (equipe mantida pela comunidade originária do país caucasiano). Hoje, além de escrever com freqüência para os jornais espanhóis As e Marca e para o Olé argentino, comenta jogos pela ESPN internacional, sempre mantendo vivo seu espírito polêmico e suas pouquíssimas papas na língua, como nos tempos de jogador (certa vez declarou: "Sou o melhor", quando perguntado sobre qual o melhor goleiro argentino de todos os tempos; mas, às vésperas da Copa do Mundo de 1978, insistiu em que não deveria ser convocado pelo técnico César Menotti, pois não se sentia em boas condições físicas, deixando a vaga para Ubaldo Fillol).

Diogo Terra

Imagem: Informe Xeneize

Um comentário:

Anônimo disse...

Jorge Campos é Rei!