
Há dois aspectos envolvendo esse processo. O primeiro, puramente lúdico, é ver dois dos clubes mais simpáticos do país reagirem contra suas próprias decadências. O segundo, mais analítico, é ver como há esperança para clubes de tradição que acabam padecendo pela dificuldade em encontrar espaço no novo cenário futebolístico do Brasil.
A atual estrutura é cruel com os clubes pequenos. A falta de torneios decentemente organizados que os mantenham em atividade o ano todo (Série C e uma eventual Série D) torna inevitável a existência de vários times sazonais pelo país. Isso é pior para equipes tradicionais, que têm de dar satisfação para torcedores e conselheiros e acabam se enroscando entre a tentativa inglória de investir ou na perda de identidade. Enquanto isso, clubes novos, sem nenhuma ligação com comunidade alguma, crescem por estarem ligados a empresários ou a prefeituras que bancam a montagem e desmontagem de elencos a cada ano. E é esse processo que Juventus e América-RJ podem quebrar.

A intenção não é seguir os passos de Parmalat e Excel Econômico, que compraram jogadores caros para aumentarem a exposição de suas marcas. Até porque o retorno que o Juventus proporcionaria nesse modelo seria pequeno e demorado. Por isso, o objetivo é dar mais estrutura e ajudar na contratação de jogadores bons o suficiente para manter um desempenho satisfatório em campo, além de unir projeto social e investimento em categorias de base. Em médio e longo prazo, a empresa afirma que reformará a Rua Javari e trabalhará a marca “Juventus”.
O América carioca, ex-jogadores liderados por Jorginho (que começou nos juniores do Diabo Rubro) apresentaram um projeto de gestão e recuperação do time. O grupo dará apoio técnico e financeiro para reestruturar o clube da rua Campos Salles. A idéia e elaborar um projeto de médio prazo, o que permite a busca de parceiros e o reforço do nome do clube diante dos torcedores, além de realizar trabalhos sociais ligados ao América na região de Édson Passos.

Nos dois casos, é possível que nada dê certo e os projetos acabem em pouco tempo. Não seria a primeira vez no futebol brasileiro, até porque, sobretudo no América, incomoda a ligação entre os investidores e uma empresa de agenciamento de jogadores (a Intersports). No entanto, o fato de os parceiros de grenás e rubros falarem em “trabalhar a marca do clube” e “projetos sociais” representa uma grande mudança. Em geral, quando se fala em parcerias no Brasil, o discurso é de “revelar jogadores e encaminhá-los para o exterior”, forma eufemística de dizer que o clube se transformou em entreposto comercial de empresário.
O mais importante, no caso, não é que jogadores virão ou não e se os times em questão crescerão efetivamente, mas sim, a percepção que um clube sem torcida também pode gerar mercado para o investidor. Não pela paixão direta de um seguidor fanático, mas por ajudar a estabelecer uma “marca” ou por servir de referência para projetos de diversas naturezas. Um modelo de profissionalização pouco comum no Brasil (até porque o modelo tradicional, de fazer que torcedores consumam produtos do clube, está incipiente também), mas bastante interessante. E pode ser aplicado tanto para clubes pequenos de grandes centros como para clubes grandes de pequenos centros. Nos dois casos, o time é uma referência local forte, por mais que os eventuais consumidores sejam corintianos, flamenguistas, vascaínos ou são-paulinos.
O Balípodo pode até estar enganado. Porém, a sensação é que Juventus e América estão mostrando como, mesmo em clubes pequenos e de poucos seguidores, a tradição é importante. E é melhor que isso aconteça do que manter o cenário atual, com genocídio de clubes tradicionais e alta taxa de natalidade de instituições criadas por fins político-econômicos, que morrem em pouco tempo.
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Na realidade, o projeto do Pão de Açúcar com o futebol vai muito além da parceria com o Juventus. O clube tem uma sede no Rio e chegou a pensar em fazer parceria justamente com o América. Também está nos planos fazer alguma ação no Nordeste.
Ubiratan Leal
Imagens: Juventus, Ronaldo Barbosa/Pão de Açúcar e América
5 comentários:
Enquanto isso, o Bangu vai disputar a segundona do Rio e quase teve a sede social vendida para a Universal.
Tenho acompanhando a negociação do Juventus com o Pão de Açúcar, na expectativa de que dê muito tudo certo. E que o Moleque Travesso possa, pelo menos, voltar a disputar as divisões inferiores do Brasileirão.
Uma dúvida: esse Aílton, que vai trabalhar no América, é o que fez o segundo gol do Grêmio na final contra a Lusa em 96?
Parece que os dois times mais queridos de SP (Juventus e Lusa) estão voltando a pensar grande.
Abração!
Estou torcendo para que dê certo. É uma pena mesmo ver as equipes menores, mas igualmente tradicionais, em situação tão precária e, muitas vezes, até fechando.
Foi o caso do tradicional Grêmio Maringá, lembrado recentemente pelo Balípodo, que já fechou as portas.
Enquanto isso, equipes de empresário, sem torcida ou tradição, seguem surgindo em cada esquina.
Obviamente que, para um empresário que está pensando em revelar e exportar jogadores é muito mais fácil abrir uma equipe nova, do que trabalhar com um clube endividado.
Mesmo porque, em uma equipe nova, o empresário terá todo o poder, não precisando dividí-lo com outros dirigentes.
Mas, para o torcedor, o legal mesmo é ver as equipes tradicionais, mesmo as pequenas, disputando os campeonatos.
Abraço.
Emanuel, é esse Aílton mesmo
Vamos lá Diabo!!! Rumo ao título do Carioca e à série B do Brasileiro.
Eu acho que o América está ressurgindo com o Jorginho. Ele tá botando ordem na casa. Com certeza é tudo dedo dele aí.
Abraços!
Deus os ouça...
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