
Porém, os resultados do Pachakuti são menos importantes do que seu significado social. Até porque sua criação não está dissociada do fenômeno político boliviano. O clube é um braço futebolístico do Movimiento Indígena Pachakuti, partido político liderado por Felipe “Mallku” Quispe Huanca, também ex-líder sindical de origem aymará.

O nome de seu clube de futebol segue sua linha ideológica, ou pelo menos reflete o papel histórico que Quispe se dá. Pachakuti (também conhecido como Pachacútec, dependendo da forma como se escreve em alfabeto latino o nome que, em quéchua, significa “O Reformador da Terra”) foi o maior imperador do Tawantinsuyo (Império Inca). Grande general, ele promoveu um imenso processo de expansão territorial por boa parte dos Andes e da costa pacífica, transformando o pequeno povo no principal império da América do Sul pré-colombiana. Além disso, estabeleceu as bases da organização social e política do incanato.
Neste contexto, o Deportivo Pachakuti é carregado de simbolismos e ideais nacionalistas. A camisa é toda preta com a wiphala – bandeira do povo aymará, vista ao fundo na foto acima – no peito e os jogadores são chamados de “filhos do sol” (de acordo com a lenda, o povo inca teve origem no casal Manco Cápac e Mama Ocllo, filhos de Inti, o Deus Sol). Com isso, Quispe pretende revelar jogadores aymarás que se identifiquem com a causa. Nisso, Mallku pega carona também na discussão do uso indiscriminado de jogadores estrangeiros, muitos naturalizados, no futebol boliviano.
Felipe Quispe pode até desistir de seu projeto futebolístico ou não obter sucesso em divisões mais importantes do futebol boliviano. Mesmo assim, a fundação do Pachakuti foi suficiente para transformar o futebol em mais um fórum para a manifestação dos indígenas do país. Ainda mais em um momento em que o maior líder político do país também tem origem pré-colombiana.

O time-base do Pachakuti na temporada de estréia: Daniel Rojas; Ismael Condori, Víctor Quispe, Álvaro Conde e Froilán Poma; Rubén Osco, Edson Zapana, William Choque e Omar Callizaya; Jheyson Uría e Gueri Guari. O técnico foi Mario Callizaya
Ubiratan Leal
Imagens: La Razón e Wikipedia
Um comentário:
Alguém já tentou falar Gueri Guari várias vezes, rapidamente, sem gaguejar?
E as vezes eu me pergunto onde o Ubiratan vai buscar notícia da 6ª divisão do belo e técnico futebol boliviano.
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